CARTILHAS DO PATRIMÔNIO NEGRO EM
SERGIPE: ARACAJU, SÃO CRISTÓVÃO E LARANJEIRAS
Ensino
afro-brasileiro
A
lei 10.639/03, atualizada pela lei 11.645/08 que inseriu a obrigatoriedade do ensino
da cultura e história indígena, trouxe em sua essência a responsabilidade de
contribuir com a diminuição da inferiorização histórica do negro brasileiro.
Almejando cumprir, com maior fidelidade o artigo 3º da Constituição Brasileira
de 1988, especificamente o inciso 4, que expõe os seguintes compromissos do
Estado brasileiro, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quais quer outras formas de discriminação” (1988; p. 9).
Concomitantemente
à garantia da cidadania plena de todos os brasileiros, a lei 10.639/03 projetou
coibir a evasão escolar de crianças e adolescentes negros, por meio da
afirmação de uma identidade negra, construída também no ambiente escolar. Além
disto, se objetivava, por meio da conscientização dos feitos realizados pelos
africanos e seus descentes ao longo da história do Brasil, a desconstrução da
visão negativa de discentes brancos e negros sobre estes sujeitos (CASTRO,
2008; p. 5) Pois, a escola é fator determinante paras as relações sociais entre
brancos e negros, e pela visão que estes indivíduos respectivamente possuem do
outro e de si mesmos.
Após
dezesseis anos de sua promulgação, os frutos da lei 10.639/03 são inegáveis.
Muitos materiais didáticos que auxiliam alunos professores foram criados, dos
quais podemos citar “Uma Breve História da África” de José Airton de Farias,
“Heroínas Negras Brasileiras” de Jarid Arraes e a “Coleção História &
Cidadania” de Alfredo Boulos. No entanto, as representações desta população no
Brasil, por diversas vezes continua generalizante, negando as especificidades destes
grupos, mediante o tempo e o espaço em que agem.
É
de suma importância tratar dos patrimônios culturais locais, que estes
indivíduos legaram, nas aulas de História da África e Cultura Afro-brasileira.
Em outras palavras, é importante falar sobre Zumbi e Palmares. No entanto, para
uma menina de Salvador é imprescindível falar sobre Luiza Mahin e Maria Felipa.
Da mesma forma que para uma criança negra sergipana, falar sobre João Mulungu e
sua resistência quilombola, atingirá com maior êxito o objetivo da promoção de
uma identidade negra e do combate ao racismo em Sergipe.
Visando
contribuir pedagogicamente, elaboramos cartilhas educacionais acerca do
Patrimônio Negro Sergipano. Estas têm como principal objetivo ressaltar o
protagonismo dos sujeitos negros na História de Sergipe, sua criatividade e
diversidade. Desta forma, esta é preenchida pela pluralidade e capacidade
inventiva do povo negro sergipano, em suas múltiplas expressões de resistência
e ocupação de territórios urbanos.
A estrutura das cartilhas
O projeto “Cartilha do Patrimônio
Negro em Sergipe” tem se debruçadona elaboração de três cartilhas referentes às
cidades de Aracaju, São Cristóvão e Laranjeiras. O material que compõe as
cartilhas é resultado do projeto,desenvolvido pelos autores desse texto Hiago
Feitosa da Silva e Maria da Conceição Bezerra dos
Santos Sobrinha, orientado pela Profª Dra. Janaína Cardoso de Mello, em pesquisa
que integra dois planos de trabalho de iniciação científica (PIBIC/CNPQ e
PICVOL). A intenção é que as cartilhas sejam um material que leve para as
escolas o conhecimento que a Universidade pode promover a partir da pesquisa, tendo
como seu principal público alvo a educação básica.
As cartilhas serão apresentadas pela
historiadora negra Beatriz Nascimento (referenciada mais a frente), ilustrada
como uma personagem que guia o leitor pelos espaços urbanos e as manifestações
culturais negras em Sergipe. Cada cartilha contém capítulos fixos que possuem
chaves didáticas para compreender o cerne da discussão, que são: “O que é
Patrimônio Cultural?”, “Por que Patrimônio Negro?”, “Quem é Beatriz
Nascimento?”, “Um filme chamado Orí”, “O que é Identidade Quilombola?” e em
cada cartilha há um capítulo relacionado ao contexto geográfico negro (as
apropriações que a população negra faz dos espaços citadinos).
Os capítulos que dão continuidade às
cartilhas são recortes da tipologia de Patrimônio Negro que cada cidade
apresentou na pesquisa. Além disso, o material é composto por ilustrações de
Beatriz Nascimento (produzidas por alunos de Artes Visuais), fotografias dos
espaços de negritude de cada cidade e das pessoas que constroem esta
sergipanidade negra, além de textos explicativos. Outro elemento importante são
os verbetes que acompanham o fim de cada capítulo,escritos por membros de
movimentos culturais, professores, estudantes, todos negros e conhecedores da
vivência negra como um todo, justamente como uma forma de conferir visibilidade
a população negra, como produtora de fala e conhecimento.
Beatriz
Nascimento
Maria Beatriz Nascimento nasceu na
cidade de Aracaju em Sergipe, no dia 12 de julho de 1942. Moradora do Bairro Santo Antônio, desde muito
cedo esteve muito próxima à terra e ao rio que desemboca no Oceano Atlântico,
centro de sua inesgotável e inconclusa pesquisa. Aos sete anos, migrou para o
estado do Rio de Janeiro. A família buscava melhores condições de vida, e seus
pais Rubina Pereira e Francisco Xavier do Nascimento acreditavam que a cidade carioca
proporcionaria melhores possibilidades de futuro. Aos 26 anos de idade,
ingressou na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e, desde então, se dedicou
às questões raciais, questionando sempre o“... eterno
estudo, quando se referia ao negro, sobre o escravo” (NASCIMENTO, 2018; p.
127).A partir de 1974, publica vários artigos debatendo as questões
raciais em revistas e jornais da época, entre os quais podemos citar “A Revista
Cultura Vozes”.
A teoria de Beatriz Nascimento, possui
como essência o objetivo de construir a história do homem negro e a revisão da
produção historiográfica do Brasil, buscando interpretar os negros como
sujeitos dotados de autonomia, religião, filosofia e sistemas políticos e de
organização social próprios, para além da capacidade cognitiva do colonizador.
O que Beatriz Nascimento propõe em suma é a construção de uma prática de
pesquisa histórica (e consequentemente de ensino da história do Brasil), que
busque apresentar o negro a partir da sua perspectiva, da sua vivência.
Os estudos de Beatriz Nascimento compõem
um dos pilares do arcabouço teórico e metodológico da História enquanto
disciplina, influindo na forma e na estética com a qual construímos às nossas
cartilhas. Essencialmente no que concerne à visibilidade dada aos sujeitos e no
cuidado em compreender e transmitir a sua fala e a sua visão de mundo. Em
síntese nosso trabalho está voltado à uma tradução do conhecimento, das
práticas, do ser destes homens e mulheres negras. Em outras palavras, podemos
dizer que assim como Beatriz Nascimento foi uma ponte entre o conhecimento a
respeito dos povos atlânticos que criaram e recriaram a organização social do
quilombo, as cartilhas são a ponte entre estas expressões e sujeitos ancestrais
e os alunos e professores que acessarem o material didático.
Museus
Os
museus, acervos e arquivos são uma importante base para o ensino de História.
Enquanto lugares de memória que salvaguardam determinada documentação,
iconografia ou objeto museológico; esses espaços transmitem representações
(diversas) de uma sociedade ou de determinados grupos sociais, sendo assim,
também são um dispositivo que auxilia no entendimento do Patrimônio Negro
Sergipano.
No
caso de Aracaju, museus como o Museu da Gente Sergipana fazem um apanhado
cultural do Estado. É possível ver elementos múltiplos, muitos deles dotados de
negritude, mas com um foco maior nos adereços culturais, objetos de memória e
numa noção geral de sergipanidade (situação que toma novos tons com a criação
do Largo da Gente Sergipana). Na capital encontra-se também o Centro Cultural
de Aracaju, e acervos diversos como oArquivo Público Estadual de Sergipe(APES), Arquivo Público Municipal de Aracaju e
o Arquivo Públicos Estadual do Judiciário de Sergipe, além das galerias e
espaços outros.
Em
São Cristóvão e Laranjeiras existem espaços voltados para os grupos populares,
como a Casa de Folclore Zé Candunga (Laranjeiras) e a Casa de Folclore Zeca de
Norberto (São Cristóvão). Não obstante, também há uma forte relação com a
Igreja Católica marcada pelos museus de Arte Sacra presente nos dois centros
históricos, sendo o de São Cristóvão muito marcado por um catolicismo negro
vivido nas irmandades e na ressignificação do catolicismo feita dentro da
cultura popular, que se representa com nitidez nos vários discursos feitos com
relação a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, ambos de devoção dos negros,
sendo o primeiro um santo de pele preta. Em Laranjeiras ainda há o caso do
Museu Afro-brasileiro de Sergipe (o primeiro do Brasil) criado em 1976, mas que
ainda reproduz uma narrativa ligada fortemente à escravidão.
As
irmandades negras
Ao longo da nossa pesquisa buscando os
espaços ocupados e construídos pelos negros nas cidades de Aracaju, São
Cristóvão e Laranjeiras nos deparamos com as irmandades, como lugares em comum
de congregação e sociabilidade negra. As irmandades, são uma organização
eclesiástica, surgida ainda na Idade Média e trazida pelos portugueses para a
América Portuguesa. Ao longo do período escravocrata se tornaram o principal
lugar de promoção e vivência da fé católica, incentivando a devoção à um
determinado santo (no caso das irmandades Negras, os mais comuns eram N.S. do
Rosário e São Benedito) e delegando funções aos seus membros. As irmandades são
regidas por um compromisso, conjunto de regras que estabeleciam a conduta moral
e espiritual de seus integrantes.
No que concerne às irmandades negras,
visamos explicitar em nossas cartilhas que elas se tornaram grandes espaços de
sociabilidade e solidariedade dos negros. As irmandades negras se dividiam em
duas nomenclaturas, Irmandades dos Homens Pretos ou Irmandade dos Homens Pardos
e consistiam no principal mecanismo de “catolicização” negra no período da
escravidão no Brasil. Em Sergipe, as grandes regiões escravocratas possuem a
presença de irmandades negras, que tem como principal legado material as
igrejas.
As cidades de São Cristóvão e Laranjeiras
contaram no passado com a presença das duas vertentes de irmandades negras. Em
São Cristóvão a irmandade dos Homens Pardos se reunia na Igreja de Nossa
Senhora do Amparo e a dos Homens Pretos na Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Em Laranjeiras, os Homens Pardos cultuavam Nossa Senhora da Conceição e os
Homens Pretos congregavam na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
Ambas as cidades viram emergir grupos de cultura popular, criados pelos negros
para as festas de seus santos de devoção. Entre estas expressões podemos citar as
Taieiras e a Chegança, persistindo somente na cidade de Laranjeiras.
O município de Aracaju recebeu a sua
Irmandade Negra somente no século XIX, com a mudança repentina da capital
outrora em São Cristóvão.Assim, a Irmandade dos Homens Pretos de São Benedito
passou a funcionar na Igreja de São Salvador. Mediante a falta de estrutura
local em uma cidade que recebeu um grande contingente humano inesperado, não
construirá templo particular. Mas, esta irmandade conta com um elemento comum
às irmandades citadas anteriormente, a coroação do Rei de Congo. Esta tradição
entrou em desuso nas festas alusivas aos padroeiros nos três municípios.
Possuindo uma reminiscência somente com as Taieiras de Laranjeiras.
Negras
urbanidades de Aracaju
Por ser uma capital, no que tange a sua
idealização Aracaju carrega em si aspectos de modernização numa perspectiva
estadual e nacional. Estando a modernidade ligada a uma ideia de
progresso/ascensão, houve uma forte ocupação de afro-sergipanos vindos de
outras cidades para Aracaju que se torna capital em 1855. Visto que a
modernidade por vezes anda de mãos dadas com processos de “higienização” e
elitização, a população pobre e negra foi diversas vezes empurrada do Centro da
Cidade para a periferia. Nesse contexto, essa população não estava inerte aos
mandos e desmandos da elite local, havendo produção cultural negra tanto na
periferia como no centro.
Assim, a Cartilha de Aracaju, propõe a
visibilidade dos espaços de negritude. Ela traz, por exemplo, o Quilombo Urbano
da Malocano Bairro Getúlio Vargas, que é o segundo quilombo urbano do Brasil
registrado pelo INCRA.Neste quilombo é possível perceber continuidades
históricas e novas formas de conceber negritude, tipificados no comércio: no
trabalho da trançadeira de cabelos Gilmária Nunes e nos acarajés de Nara
Machado, ambas tendo aprendido e repassado esses modos de fazer cultura; no
festejo e manifestação artística: no Descidão dos Quilombolas e os eventos como
o “Samba da Maloca”. No Bairro Cirurgia, próximo ao Getúlio Vargas, cuja
população negra também é grande, se situa a travessa Antonina, rua que recebe o
nome de uma mulher negra (Antonina Gomes) que viveu no Bairro, foi comerciante
e tinha uma importante rede de relações com a comunidade.Foi possível chegar a
ela graças ao trabalho de genealogia de seu sobrinho-neto e pesquisador Edwyn
Gomes.
Em Aracaju também se destaca uma forte
cultura de Hip-Hop, importante por possuir uma linguagem próxima de muitos
estudantes. Encontra-se na cartilha menções aos grupos de rap e aos eventos
promovidos por estes como os SLAM’s (uma modalidade de poesia urbana), os
encontros em espaços como o viaduto do DIA, abaixo da ponte Aracaju/Barra e
bairros periféricos. Durante a pesquisa, foi possível conversar com os grupos
de rap: Família Bocasecas e 14K do bairro São Conrado, estes em suas letras
transmitem possibilidade de vida longe da criminalidade, o que configura um
importante aprendizado para os jovens. O grafite que é uma faceta visual da
cultura Hip-Hop, também reproduz signos de negritude, como o Exu grafitado por
Lee27 no viaduto do DIA, os rostos negros feitos por Dexter no Terminal DIA, o
grafite do menino negro situado em uma favela colorida grafitada por Lee27,
Isaac Souza de Jesus e FeikFrasão.
Se tratando de Aracaju, não se pode esquecer
do Mercado Municipal, o qual agrega um forte comércio e artesanato gerido por
uma maioria negra. É no mercado que se encontram pessoas como Seu Anderson que
vende folhas sagradas e possui todo um conhecimento afro-religioso em seu
trabalho, além de ser por muito tempo um representante dos comerciantes do
mercado. Tudo isto é importante de ser mencionado na disciplina de História,
pois informa ao aluno que seu universo visual e social do cotidiano, bem como
as pessoas que o compõe são dotadas de historicidade.
O centro histórico de São
Cristóvão sob a ótica da negritude
O
Centro Histórico de São Cristóvão é conhecido como um marco de Sergipe, pelo
valor histórico e arquitetônico, preservado até hoje em parte da estrutura. Com
o esforço de estudiosos da arte e cultura, assim como de pesquisadores locais,
a Praça São Francisco foi reconhecida como Patrimônio Mundial da Humanidade
pela UNESCO em 2010, isto aumentou a visibilidade do centro histórico.
Entretanto, muitas análises não abarcam a cultura imaterial e a intenção da
abordagem de São Cristóvão na Cartilha do Patrimônio Negro é contribuir para o
reconhecimento das pessoas que enchem o Centro Histórico de vida.
A
Casa da Queijada, das famosas queijadas de Dona Marieta Santos, por exemplo,
consideradas Patrimônio Imaterial do Estado em 2011, possui uma historicidade
ligada a uma transmissão cultural de mulheres negras escravizadas que passaram
esse saber e esse modo de fazer até suas descendentes livres. Os cordéis de
Dona Alda Cruz que rememoram os carnavais de São Cristóvão e trechos da
história local; assim como as xilogravuras de Nivaldo Oliveira que em seu
Ateliê trazem toda uma carga de cultura afro-sergipana, contendo além das
xilogravuras, representações como esculturas de anjos de pele negra. Outro
artista que se destaca é Gladston Barroso, com seus retratos marcados por
fenótipos negros, estes encontrados em exposições pelos espaços culturais no
Centro. Dentro das obras de cordel ou arte, exposições e afins é possível
visualizar nome de figuras importantes do povo são-cristovense como o Mestre
Rindu, Dona Biu e Jorge do Estandarte, mestres do folclore local e também dos
carnavais.
Outro
ponto fundamental são as apropriações que a população faz desse espaço
geográfico que é o centro histórico, nos festejos como a Festival de Artes de
São Cristóvão (FASC) e no Carnaval. Momentos nos quais o povo enche as ruas de
cor, e com isso traz muito de sua multiplicidade cultural e étnica, assim se
configuram os cortejos onde manifestações negras do Estado se encontram, além
das próprias manifestações da cidade como os grandes bonecos do carnaval que
representam figuras históricas locais. Em termos de protagonismo dos artistas
negros, na FASC de 2018, foi possível visualizar a ampla participação de
artistas locais como: Anne Carol e os Afrodums, o grupo de dança Ara Ijó, a Orquestra
de Atabaques de Sergipe e Samba de Coco da Ilha (do povoado de Ilha Grande/São
Cristóvão); e artistas negros de fora do Estado como: Luedji Luna; Mar’tnália,
Chico César e Rincon Sapiência.
A cidade de Laranjeiras representa um caso
atípico no estado de Sergipe, no que concerne à representação e vivência
afrodescendente. É um município autodeclarado negro, o que se pode ver em sua
população, em seus monumentos, nos brincantes integrantes dos folguedos e pela
relação que o seu povo mantém com a herança histórica e cultural, fundamentada
em seus líderes. Isto torna possível uma representação do negro em Sergipe,
feita por ele mesmo. Principal característica a ser apresentada na cartilha
sobre Laranjeiras.
O negro de Laranjeiras representado pela
figura da Profª Zizinha Guimarães, pelo poeta João Sapateiro, pela Casa de
Cultura Zé Candunga e pelo combate teatral doLambe-Sujo, é o negro que decidiu
por seus próprios meios, construiruma coesão grupal num lugar onde ele pudesse
ser livre dentro das suas possibilidades. A continuidade histórica e a
diversidade dos grupos de cultura popular de Laranjeiras, são sobretudo fruto
do seu trabalho de transmissão da herança ancestral. No Encontro Cultural realizado
anualmente no mês de janeiro, desde 1976, podemos ver que os indivíduos são
inseridos nos grupos de cultura popular em tenra idade. Aprendendo ainda na
infância a importância de manter a tradição, não por mera repetição, mas como
processo de se entender quem se é, de onde veio e para onde quer seguir.
Ou
seja, assim como muitas famílias para além de enviar as suas crianças para as
escolas as conduzem também às escolas dominicais e na catequese para que estas
possam se tornar boas fiéis, dando continuidade à sua tradição religiosa
judaico-cristã, em Laranjeiras é por meio da inserção das crianças na Chegança,
no Cacumbí, no São Gonçalo, no Samba de Pareia e na Taieira que ensinam as
crianças a se entenderem enquanto negras, dando continuidade e reinventando a
herança recebida por seus ancestrais, muitos, quilombolas.
Referências
Hiago Feitosa da Silva é graduando de História na Universidade Federal de Sergipe e bolsista PIBIC/CNPQ, com a pesquisa intitulada “Negras raízes de Beatriz Nascimento ao patrimônio cultural negro sergipano (Aracaju e São Cristóvão)”. Este éparte integrantedo projeto de pesquisa“De Beatriz Nascimento ao Patrimônio Cultural Negro em Sergipe: entre a memória e o esquecimento no Ensino de História”, orientado pela Profa. Dra. Janaína Mello.
Maria da Conceição Bezerra dos Santos Sobrinha é graduanda de História na Universidade Federal de Sergipe e bolsista PICVOL, com a pesquisa intitulada“Lugar de Fala Negro em Sergipe: Historicidades Contemporâneas (Laranjeiras). Este é parte integrante do projeto de pesquisa “De Beatriz Nascimento ao Patrimônio Cultural Negro em Sergipe: entre a memória e o esquecimento no Ensino de História”, orientado pela Profa. Dra. Janaína Mello.
ARRAES, Jarid.
Heroínas Negras Brasileiras: em 15 cordéis. São Paulo: Polén, 2017.
BOULOS JUNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania, 8° ano.
3. Ed. - São Paulo: FTD, 2015.
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Ensino, 2015. (Coleção Pré-Universitário).
FLÁVIO, Luiz Carlos. A Geografia e os 'territórios de memória'
(as representações de memória do território). Faz Ciência (UNIOESTE. Impresso),
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PELEGRINI, Sandra C. A. O patrimônio
histórico e cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
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Intelectual: Possibilidades nos dias da destruição. São Paulo: Diáspora
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Práticas Culturais e Inclusão Social; Cadernos de Graduação-Ciências Humanas e
Sociais, v.1. Aracaju, 2013.
Olá! Gostaria de saber se há alguma discussão de gênero incluída nas cartilhas.
ResponderExcluirObrigada.
Kenia Gusmão Medeiros
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOi Kenia! Nossas cartilhas são recheadas por mulheres negras que são verdadeiras promotoras e mantenedoras do patrimonio negro em Sergipe. A priori temos Beatriz Nascimento (historiadora que nasceu em Aracaju) apresentando este patrimonio para os leitores. Dentro das cartilhas trabalhamos o empoderamento da mulher negra, por meio de vários exemplos de mulheres pretas que lideram grupos de cultura popular, associações e empreendimentos. A exemplo da professora Zizinha Guimarães de Laranjeiras, que foi uma forte figura de liderança que em seu tempo e com suas aptidões contrbuiu para o crescimento e a vivência do povo negro em Laranjeiras.
ExcluirOi Kenia, é isto que Maria comentou. Nós partimos da questão racial, mas dentro da pesquisa e das falas dos agentes históricos, conseguimos compreender algumas questões como as diferenças sociais do centro e das periferias, a relação de memória de uma instituição e uma outra relação de salvaguarda comunitária, e também um forte protagonismo feminino em alguns casos, sobretudo falando em passagem cultural. Da Cultura negra transmitida de mãe para filha, de irmã para irmã, de tia para sobrinha, que é algo que no espaço da Maloca em Aracaju, a gente pode aprender tanto com as tranças de Gilmária Nunes, como com o Acarajé de Dona Nara Machado. Há também um grupo chamado "Trava Nagô" que você pode procurar no Instagram, são três travestis negras que falam de suas vivências, de suas lutas e de toda força ancestral que elas carregam por meio do Rap, são meninas muito talentosas e com uma mensagem muito massa de fortalecimento.
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