ENTRE TAMBORES E PRECONCEITOS: (RE)CONHECENDO
NOSSA HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA
Pensar as culturas africana e afro-brasileira é uma
tarefa que demanda esforço por parte de professor/pesquisador, afinal como
abarcar toda a diversidade de sistemas simbólicos, de linguagens e
representações que se apresenta, se entrecruza e baila sob nosso olhar?
Em sala de aula essas percepções de mundo ganham
forma nos conteúdos do Ensino Médio por meio, principalmente, das disciplinas
de humanidades. São elas que vão dar cor e voz a uma pluralidade de grupos
antes negligenciados, excluídos ou esquecidos em torno da cultura das classes
dominantes, cultura esta que traz em seu bojo a manutenção de uma visão
elitista, europeia e cristã, herança de nossa formação e colonização por parte
desses grupos.
Assim, pensar essa temática passa pelo inventário
das diferenças que nos separam, nos limitam e ao mesmo tempo nos aproximam ao
seduzir com todo um velho/novo mundo de desconstruções de estereótipos
negativos, da descoberta do Outro como belo e exótico, do reconhecimento de sua
identidade e respeito à diversidade.
Entre as disciplinas que assumem em seu currículo a
abordagem das culturas africanas e afro-brasileiras encontra-se a História, a
Sociologia, a Arte e a Literatura. Como a disciplina de Sociologia tem como
objetivo estudar o ser humano em sua atuação na sociedade não pode esquivar-se
das discussões sobre o conceito de cultura.
Vale salientar que a sociedade não é algo estático,
está sujeito a mudanças, as quais precisam ser problematizadas, assim como seus
conflitos, modos de ser e agir. Por isso, entre os conteúdos abordados, no
primeiro ano, do Ensino Médio, encontra-se aquele da cultura e suas
imbricações, subdivididos de forma que o aluno possa compreender e respeitar as
diferenças culturais de cada sociedade ou grupo.
Assim, a visão dos primeiros antropólogos como
Franz Boas, acerca do conceito de cultura e posteriormente a compreensão desse
conceito como algo mais abrangente relacionado a autores clássicos e atuais vai
delineando um caminho para a diversidade cultural, a tolerância e respeito ao
universo simbólico e material daqueles grupos aos quais devemos a construção de
nossa identidade étnica e que negamos sua atuação, seus modos de expressão e
características devido aos estereótipos negativos construídos ao longo dos
contextos históricos vividos no país.
Como destacou Ricardo Oriá Fernandes sobre a
herança dos africanos escravizados:
“Os africanos, que aportaram em nosso território na condição de escravos, são vistos como mercadoria e objeto nas mãos de seus proprietários. Nega-se ao negro a participação na construção da história e da cultura brasileiras, embora tenha sido ele a mão-de-obra predominante na produção da riqueza nacional, trabalhando na cultura canavieira, na extração aurífera, no desenvolvimento da pecuária e no cultivo do café, em diferentes momentos de nosso processo histórico. Quando se trata de abordar a cultura dessas minorias, ela é vista de forma folclorizada e pitoresca, como mero legado deixado por índios e negros, mas dando-se ao europeu a condição de portador de uma ‘cultura superior e civilizada(FERNANDES, p.380, 2005)’”.
Dessa forma, não se pode
fugir a História para abordar os contextos de nossa memória coletiva, pois as
construções sociais de paradigmas e padrões estéticos e normalizadores
entrelaçam-se nos vieses sociológicos de processo cultural. Ao inferiorizar a
cultura do outro, ao diminuir sua atuação como sujeitos históricos legitimaram
atitudes do passado e preconceitos do presente.
Em uma sociedade que ainda segrega, embasada no
desconhecimento, na reprodução de estereótipos negativos referentes às
populações negras, alimentando ainda o racismo, em um país em que ainda perdura
a ideia eugenista e elitista em relação às pessoas afro-descentes, torna-se
essencial intervenções, projetos, cursos, palestras, entre outros, que
contribuam para desconstrução de tais estereótipos e permita que o indivíduo ou
os grupos os quais este faz parte, deixem as margens sociais e assumam seu
lugar como protagonista da sua e da nossa história, permitindo-lhes a condição
de cidadãos e indivíduos plenos de direito.
Dessa forma, cabe a escola, lugar de pluralidade
das ideias, de encontro de diversos grupos a abordagem das questões étnicas
raciais, o adentrar ainda que tímido nas culturas africanas e afro-brasileira,
trazendo a luz aspectos antes ignorados sobre esses grupos e lançando novo
olhar sobre aqueles paradigmas negativados e arraigados na nossa memória
coletiva. Como
apontou Dupla, em relação aos debates étnicos e identitários:
“A escola não está isenta desse debate, nem de seu compromisso para com a cidadania. Ao contrário, é no espaço escolar que os conflitos estão presentes, que estereótipos se constroem e se desconstroem constantemente. Dessa forma, ao verificarmos a diversidade cultural presente em nossas salas de aula perguntamo-nos sobre a herança das múltiplas culturas que compõem nossa sociedade, a nossa realidade cotidiana e as formas possíveis de conhecimento e reconhecimento destas (DUPLA, 2014, p. 51)”.
Já
Ricardo Oriá Fernandes acredita que:
“Apesar da influência marcante da cultura de matriz européia por força da colonização ibérica em nosso país, a cultura tida como dominante não conseguiu, de todo, apagar as culturas indígena e africana. Muito pelo contrário, o colonizador europeu deixou-se influenciar pela riqueza da pluralidade cultural de índios e negros. No entanto, o modelo de organização implantado pelos portugueses também se fez presente no campo da educação e da cultura (FERNANDES, 2005, p. 380).
Apesar desse fato incontestável de que somos, em virtude de nossa
formação histórico-social, uma nação multirracial e pluriétnica, de notável
diversidade cultural, a escola brasileira ainda não aprendeu a conviver com
essa realidade e, por conseguinte, não sabe trabalhar com as crianças e jovens
dos estratos sociais mais pobres, constituídos, na sua grande maioria, de
negros e mestiços (FERNANDES, 2005, p.279)”.
Dessa forma, no âmbito escolar cabe ao professor
propor o debate e suas formas de abordagem. Além disso, como nos alerta Dupla,
o espaço escolar:
“(...) aparece como lócus privilegiado na construção de identidades, assim como na disseminação e na preservação de aspectos importantes de nossa herança cultural. No entanto, compreender as diversas matizes que compõem o cenário de nossa cultura é um trabalho que demanda cuidado, paciência e um olhar que ultrapasse o paradigma negativo acerca do qual nossa identidade cultural foi formada (DUPLA, 2014, p.51 )”.
Nesse
sentido, atendendo as especificações das Diretrizes Curriculares Nacional, a
lei 10.639/03 e especificamente os conteúdos de cultura africana e
afro-brasileira presentes no PPD de Sociologia, pensou-se em um projeto
multidisciplinar, com objetivo de atender as diversas facetas do referido
conteúdo e abranger de forma mais significativa à temática.
Dessa forma, o projeto proposto aliou-se a disciplina de Arte e buscou
abordar as expressões culturais e artísticas de etnias africanas e
afro-brasileira, tratando de suas representações simbólicas, de seus objetos
característicos, da sonoridade das formas, dos ritmos e dos padrões artísticos
relacionando aos grupos abordados as concepções materiais e imateriais da
cultura.
Assim,
o referido projeto foi conduzido sob o viés sociológico e artístico,
ressaltando o valor dos sujeitos, o respeito à diversidade cultural e heranças
presentes em nosso país e consequentemente em nossas salas de aula. Percebemos
ao longo do ano, que havia uma necessidade de um projeto que buscasse respeitar
a alteridade e diversidade cultural, principalmente étnica.
Seguindo
as concepções de Gadotti, optamos pelo viés da Educação Multicultural, visto
que como salientou o autor:
“A escola que se insere nessa perspectiva procura abrir os horizontes de seus alunos para a compreensão de outras culturas, de outras linguagens e modos de pensar, num mundo cada vez mais próximo, procurando construir uma sociedade pluralista e interdependente. Ela é ao mesmo tempo uma educação internacionalista, que procura promover a paz entre os povos e nações, e uma educação comunitária, valorizando as raízes locais da cultura, o cotidiano mais próximo onde a via de cada um se passa (GADOTTI, 1992, p. 21)”.
Assim, atendendo as demandas escolares e as
diretrizes educacionais previstas no plano de ensino da disciplina de
Sociologia, que é parte integrante do currículo escolar, iniciamos um projeto
conjunto no qual propiciamos aos alunos, além de aulas teóricas e discussões, uma
oficina de tambor e uma introdução a Umbanda. Os trabalhos foram realizados
durante o segundo semestre de 2018 e fomentaram mudanças de olhar em relação ao
cultura do outro e sua forma de perceber o mundo.
Portanto, o foco deste relato é abordar não a
prática pedagógica em si, mas os resultados da oficina oferecida aos alunos,
mostrando por um lado as percepções do sociólogo sobre sua inferência no
universo dos alunos e por outro, o olhar que proporcionou a oficina por meio dos
relatos posteriores dos educandos.
A escola e os alunos
O Colégio Estadual Presidente Kennedy, foi criado
em 1968, atende a uma clientela diversificada, tanto cultural como econômica.
São alunos que vem do bairro Nova Rússia, um dos mais antigos da cidade e das
vilas periféricas destes, há ainda alunos de outros bairros, dado o caráter
múltiplo do colégio que tem além do curso Médio normal, o Técnico em
Informática. Para esse projeto envolvemos apenas o primeiro ano, visto que não
ministramos aulas no curso técnico.
Os
alunos, como em toda a instituição de ensino, têm características peculiares,
suas bagagens culturais são diversificadas o que contribui para que eles possam
entender a cultura do outro e respeitá-la ou negá-la e combatê-la, embasados no
senso comum que os acompanha. Assim, torna-se necessário abordarmos os
conceitos de cultura e identidade, além do etnocentrismo, trazendo aos alunos
discussões pertinentes a temática que contribuam para a quebra de estereótipos
negativos sobre as culturas africanas e afro-brasileira.
Temos
diversos alunos afrodescentes, mas a maioria esmagadora é branca, e os
segmentos afros deixam-se levar ainda pela ideia de meritocracia sendo capazes
de manter visões negativas sobre si mesmos, aspectos que constatamos durante as
aulas/debates acerca da promoção de políticas afirmativas.
As
questões do paradigma de branquitude da sociedade foram abordados nas aulas por
meio de conceitos antropológicos, desmitificando estereótipos relacionados a
construção de modelos ideais voltados aos padrões europeus. Os alunos pensaram
a representação negra por meio de exemplos, como programas de televisão,
novelas e revistas, além de pensarem o locus que se encontravam, a presença e
representatividade desse grupo na escola.
O projeto foi executado nas sete turmas do primeiro
ano, cada turma foi dividida em grupos, aos quais cabiam temáticas das culturas
africanas e afro-brasileiras, buscamos assim, abordar a cultura Zulu, os
Tuaregues, os Ndebeles, além daquelas que vindas do continente africano compõem
hoje a sociedade brasileira, com tudo aquilo que herdaram de seu sistema
cultural: a música, a dança, a culinária, as crenças religiosas, etc. Para
aproximarmos mais ainda a teoria da prática convidamos Bruno dos Santos Grube que desenvolve oficinas e palestras sobre
Umbanda, tambor e capoeira.
Destaco a importância de trabalhar as
religiões de matriz ou influência africana na escola dado o momento delicado
que vem passando o país em razão da intolerância religiosa gerada por grupos
contrários as práticas e diversidade de crenças existentes na sociedade. Grupos
estes que têm muitos seguidores/fiéis que fazem parte da clientela escolar e
cuja resistência em aceitar como legitima uma crença que não tenha as bases e
concepções de mundo que as suas terminam por inferiorizá-las ou desmerecê-las
enquanto forma válida para existência e enquanto prática religiosa.
Nesse sentido, a proposta das oficinas se fizeram
mais significativas, pois contribuíram para a desconstrução de estereótipos
negativos dentro desses grupos e para a afirmação da identidade e
representatividades de muitos alunos, que puderam dizer orgulhosos que
praticavam ou frequentavam religiosidades de raiz afro.
Houve, durante as
apresentações, atitudes de espanto por parte de alguns alunos ao perceberem que
as impressões que carregavam a respeito das religiosidades afro-brasileiras não
encontraram respaldo nas explicações do palestrante, e desconforto por parte de
outros, que mesmo observando que as práticas religiosas não tinham relação com
a construção pejorativa que reproduziam, preferiram continuar a alimentá-las, demonstrando
justamente o desconhecimento cultural de referenciais que estão assentados no
dia-a-dia dos brasileiros.
Após a execução
das oficinas novo debate surgiu em sala de aula, desta vez sobre os discursos
que os alunos haviam comprado como verdades absolutas e se mostraram grandes
falácias quando da apresentação sobre a Umbanda. Os educandos se mostraram
reflexivos em relação as vivências que tiveram durante as oficinas, nos
permitindo perceber avanços significativos em relação à mudanças de atitudes e
a mentalidade sobre a temática.
Os trabalhos foram
concluídos com a apresentação dos grupos sobre suas temáticas e produções que
foram expostas após realizadas as pesquisas. Embora tenhamos avançado no
diálogo e conseguidos algum êxito em relação a quebra de estereótipos
negativos, a estrada é longa e tortuosa na construção de uma sociedade plural,
mais humana e igualitária. Como pesquisadores sabemos que as sementes germinam
lentamente, como seres humanos, nos fere profundamente cenas e falas que
presenciamos, as quais preferimos não relatar, mas demonstram o quanto é
importante dialogar, mostrar, comparar, conhecer, entender, aceitar o Outro,
sua cultura e sua forma de pensar, agir e ser no mundo.
Considerações finais
Ao longo do projeto nos deparamos com situações
tristes e difíceis, como a forma pejorativa com que as religiões de matrizes
africanas ainda são vistas, do senso comum sobre macumba e oferendas, do
desconhecimento acerca dos Orixás e Guias.
Sabemos que não se troca de mentalidade como trocamos de roupa, e que
preconceitos seguem raizados no nosso inconsciente coletivo, fruto de nosso
discurso elitista ao longo da história.
Infelizmente, o
racismo e o preconceito continuam presentes na sociedade, mesmo que de forma
velada. Então, a conscientização, a propagação de conhecimentos vindos da
cultura negra e a explanação das práticas religiosas são uma forma de colocar a
mostra esta cultura, tornando mais presente na vida das pessoas. Não permitir a
manutenção e reprodução de estereótipos negativos é compromisso de todos,
principalmente das Ciências Humanas, em especial da Sociologia, da História e
da Arte.
Felizmente também contemplamos a tomada de
consciência, a surpresa de (re) conhecer a história do Outro e apreender a
respeitar a diversidade presente nas crenças, nos hábitos e costumes, na luta
pela equidade. Ao longo dessa trilha que iniciamos buscamos formar cidadãos
mais tolerantes, menos propensos a juízos de valores, a descobrir o gosto pelo
conhecimento, pela pesquisa e pela história das culturas afro. Há um caminho
longo pela frente, mas as pequenas flores que brotam ao longo dele, compensam
as pedras com as quais machucamos nossos pés.
Referências
Simone
Aparecida Dupla é doutoranda em História, pela UEM, professora do Ensino
Fundamental I, Médio e Superior.
Bruno Santos Grube é professor de
Filosofia, palestrante sobre culturas afro-brasileiras, com ênfase em Umbanda e
Capoeira de Angola.
BORGES,
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Currículos da Educação Básica. R. Mest. Hist., Vassouras, v. 12,
jan./jun, 2010, p. 71-84.
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003.
Altera a Lei nº 9.394,de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino
a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras
providências. Diário Oficial da União.
Brasília, DF, 10 jan. 2003.
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Maria Manuela Galhardo. Portugal: DIFEL, 2002.
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Olá, adorei a abordagem do texto, parabéns! Eu vi que teve uma certa ênfase no texto sobre a desconstrução em sala sobre a umbanda. Seria mais palatavel para os alunos discutir a umbanda por ela ter uma raiz cristã muito forte?
ResponderExcluirOi Bárbara, que bom que leu nosso texto! Já trabalhei em edições anterioes com o Camdomblé e a Umbanda conjuntamente, minha enfâse é sempre na cultura afro-brasileira, independente da ramificação desta. No entanto, nessa edição a palestra e oficina ficou a cargo do Bruno, pois outros convidados não puderam comparecer. E creio que trazer alguém que tenha vivências dentro dessas culturas é o que enriquece o trabalho com o conteúdo, porque aproxima a história que se ensina daquela que se apreende e ver os alunos assumindo suas identidades e desconstruindo estereótipos negativos foi um ganho imenso em meio a todo preconceito e senso comum que vivenciei em sala de aula.
ExcluirComo preparar o aluno que foi criado dentro do cristianismo para aprender sobre religiões como o candomblé (não levando em consideração as exceções de casas com crenças mistas com o cristianismo)?
ResponderExcluirAcredito que ninguém nasce preconceituoso, preconceito aprende-se e pode ser desconstruído. Não há fórmulas prontas, nossas fazemos por tentativas, erros e acertos, mas o importante é não desistir. Quando abordo os conteúdos referentes a essas culturas, antes falo de como a visão europeia, principalmente dos primeiros antropólogos, ajudou a criar estereótipos e conceitos que não usamos ou pelo menos não devemos mais usar no século XXI. Então é importante que eles saibam o que é cultura hoje (e como o conceito mudou ao longo do tempo), que tudo é cultura e que não existe povo sem cultura. Que há culturas no plural e essa diversidade enorme que temos precisa ser respeitada, independente da crença que cada um professa, das ideias que cada um nutre sobre os diversos assuntos e a rebelia de toda institucionalização do racismo, da depreciação da identidade do Outro ou das formas pelas quais aprendemos a ver no Outro o que há de negativo em relação a minha cultura, a minha religião ou a minha forma de ser e agir. Nós não mudamos de mentalidade como mudamos de roupa, trazer a construção histórica acerca do conceito de cultura é bom caminho para adentar no universo do Outro, sem o ofender aqueles que tem ideias pré-concebidas. Lançar outros olhares sobre a história das culturas africanas e afrobrasileiras é um dever nosso como cientista social, não dá mais para ensinar história do mesmo jeito que ensinavam para nossos pais, é preciso também uma tomada de posição e um comprometimento com nossas disciplinas, principalmente nesse momento triste de nossa história, seguir em frente em meio a este contexto turvo é nosso papel social.
ExcluirEspero ter respondido.
abç
Olá Simone,concordo plenamente com a sua colocação e principalmente no campo educacional no meu ponto de vista,há um grande descaso com a cultura afro e até mesmo uma forma de conscientizar as pessoas sobre a importância da cultura africana em nosso cotidiano e lembrando que nosso país é miscigenado e nós temos um pouco da essência africana.
ResponderExcluirRealmente é uma pena que no Ensino de História não seja aprsentado no matérias didáticos da disciplina a cultura africana e sua grande diversidade
Olá, aqui é o Bruno dos Santos Grube. E sim, há um descaso muito grande, devido ao preconceito internalizado ao longo de tantas gerações, chegando ao ponto de muitas pessoas acharem que é frescura querer colocar algum enfoque nas matrizes africanas. E são essas mesmas pessoas que vão dizer de boca cheia sobre igualdade e toda aquela velha idealização francesa que sabemos que não funciona com todos. "Liberdade, igualdade e fraternidade apenas para quem pensar igual a mim e acreditar no mesmo que eu". Nosso papel como educadores é quebrar essa lógica e expandir o entendimento e a conscientização de nossos alunos. Trata-se pois de uma luta constante. E não só do lado dos negros, mas também com os indígenas, com os gays e todos os demais "outsaiders" da nossa sociedade.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirComo afrodescendente amo minha cultura africana. Como posso fazer com que meu aluno se auto aceite culturalmente e seja capaz de identificar?
ResponderExcluirOlá Sueli, obrigada por ler nosso texto. Não creio que tenha uma fórmula pronta, mas trazer o conhecimento dos nossos ancestrais, a beleza da cultura e as formas de resistência ao longo do tempo é um bom caminho para que o educando sinta orgulho de sua descendência e se re-conheça como parte da história. Nós precisamos manter viva a memória dos antepassados, sua histórias, seus mitos, suas narrativas. A maioria dos alunos desconhece personagens importantes da história afro porque frizamos ainda a história dos grandes homens e seus grandes feitos, voltar-se para a história local, abordar as revoltas, os poetas, escritores, o movimento negro e seus contextos é uma forma de aproximar os alunos de uma cultura que é sua e a qual eles desconhecem.
ExcluirOla Simone e Bruno, gostei muito do textos e do relato do projeto que executado, é uma ótima iniciativa, realizar projetos no âmbito educacional que envolvam esse tema que alvo de bastante preconceito das mais variadas esferas sociais, principalmente as que envolve as religiões neopentecostais. Na opinião de vocês como se daria a processo de conscientização e quebra de esteriótipos pejorativos e preconceitos em relação a Umbanda e outras religiões de matriz africa, fora do âmbito escolar?
ResponderExcluirMatheus França dos Santos
Olá Matheus, obrigada por ler nosso texto. Fora do ambiente escolar podemos contar com várias associações, ongs e pessoas dedicadas a falar de sua cultura. Seria interessante que as associações de moradores recebessem essas pessoas para falar de suas culturas, em muitos lugares isso é possível, em outros o próprio grupo cria eventos para divulgar a cultura, mas isso vai variar de lugar para lugar. Aqui temos diversas pessoas e grupos com esse objetivo, mas para o tamanho da cidade, eles são insuficientes e enfrentamos a ofensiva neopentecostal que tem na criação de sua identidade o objetivo de eliminação do outro, inclusive com apropriação cultural por parte de alguns, como é o caso da chamada capoeira de Jesus, que tenta destorcer a história da capoeira e deslegitimar as resistências afro. No entanto, é preciso resistir, criar novos grupos e estratégias, pois se o preconceito não descansa, nós também não podemos parar.
ExcluirBoa tarde aos autores, no âmbito da análise dos resultados positivos do projeto, foram constatadas alguma alteração na autoestima dos estudantes autodeclarados praticantes das religiões de matrizes afro-brasileiras?
ResponderExcluirSilvio Sarmento Arruda
Oi Silvio, gratidão por ler nosso texto. Sim, foi gratificante ver os alunos fazendo o relato de suas práticas, falando dos terreiros que frequentam, se assumindo e sorrindo ao falarem de sua religiosidade. O projeto aconteceu no final do quarto bimestre, até então os alunos fizeram silêncio sobre suas práticas, talvez porque ouviram durante todo ano brincadeiras e piadas sobre suas práticas religiosas e mesmo quando eu explicava as frases e ideias vindas do senso comum, eles nunca se manifestaram. Mas durante as oficinas se sentiram seguros e percebia-se o orgulho ao falarem de suas raízes.
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