A luta dos
afrodescendentes por cidadania percorre toda a história do nosso país. Na
sociedade brasileira contemporânea, essa luta ainda é visível, como podemos perceber
no campo da educação. Três séculos de escravidão no Brasil não foram apagados
apenas com promulgação de algumas leis. A sociedade permaneceu marginalizando
os afrodescendentes, dando-lhes uma imagem de indisciplina e falta de
responsabilidade. Não foram facilmente assimilados e como se costuma dizer:
foram abandonados à própria sorte. As Leis Abolicionistas do século XIX, não
provocaram mudanças na vida dessa população, pois estes continuaram presos às
amarras da sociedade. Sem terras, nem instrução, nem qualquer compensação pelos
anos de cativeiro, tiveram que se afirmar na nova condição e conquistar, mais
uma vez, através das brechas da sociedade, os espaços de autonomia. (OLIVEIRA,
Maria Inês Cortês. O Liberto e os outros Mundos. Dissertação de Mestrado em
Ciências Sociais, UFBA, 1979).
A reivindicação do
Movimento Social Negro pela inclusão da História da África e da Cultura
Afro-Brasileira no currículo das escolas brasileiras vem há muito tempo sendo
debatida por várias esferas da sociedade brasileira. Desde a década de 1980,
por causa do processo de organização da nova Constituição brasileira, várias
atividades e debates foram realizados pelas organizações negras com o foco
central na Educação. O objetivo era incluir no capítulo sobre Educação ações
que visassem o combate ao racismo.
Neste
momento o Movimento Social
Negro cobrava aos poderes públicos a capacitação dos
profissionais da educação, e fazia reivindicações indenitárias que visassem
assegurar o desenvolvimento do alunado negro e melhorar a qualidade de acesso à
educação a membros dos grupos discriminados.
Em 1995 ocorreu a Marcha Zumbi dos Palmares, onde o
movimento negro manifestou-se em relação à questão social, racial, gênero, e
pela inclusão nos currículos escolares dos conteúdos de história e cultura
afro-brasileira. Foi entregue ao governo federal um documento intitulado “Programa de superação do racismo e da
desigualdade Racial”, que foi fundamental para a elaboração por parte dos
governos de uma política afirmativa em relação à questão racial no Brasil. A
partir da Marcha Zumbi dos Palmares as questões étnico-raciais brasileiras
entraram em pauta em diferentes níveis governamentais e sociais. (DUARTE, Paulo
César. Os afro-descentes e as políticas de inclusão no brasil: a marcha Zumbi
dos Palmares e a Lei 10639/03. Disponível em: http://famper.com.br/download/paulo.pdf. Acesso: 28/01/2018).
No ano de 1996 foi publicada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional n˚ 9.394/1996. Esta lei trouxe a especificação das matrizes
identitárias que formam a base da sociedade brasileira, além disso estabeleceu
que o ensino de História do Brasil levaria em conta as contribuições das
diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente
das matrizes indígenas, africana e europeia. (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, art. 26, §4º. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm . Acesso:08/02/2018).
O texto Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não propôs ações
para a implementação do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
na Educação Básica, ficou apenas no campo mais amplo do ensino de História do
Brasil.
A partir do desenvolvimento de ações que visavam desconstruir com a ideia
de racismo na sociedade brasileira surgiu a Lei nº 10639/03, que modificou Lei
nº 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabeleceu
obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na
Educação Básica nas escolas públicas e privadas do Brasil. O texto da referida
Lei expõe o seguinte:
“Art. 1º A lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar
acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e
particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura
Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo
incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política
pertinentes à História do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
Educação Artística e de Literatura e História Brasileira.
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia
Nacional da Consciência Negra”. (Lei nº
10639/2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm. Acesso: 01/01/18)”
A História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, que muitas vezes foi vista de forma secundária pela história
eurocêntrica e pela história do nosso país, passa a ser reconhecida. A Lei
10.639/2003 dar o protagonismo da História a população negra, exaltando a sua
contribuição nas áreas social, cultural, política e econômica.
A Lei nº 10.639/2003 tem como objetivo
garantir que os instrumentos de aprendizagem sejam disponibilizados para os
estudantes brasileiros, buscando “superar a valorização da diversidade cultural
como mero folclore, tentando articular essa valorização com o desafio às
desigualdades e a construção das diferenças a elas associadas”. (VALENTIM, Rute
Martins; BACKES, José Licínio. A lei 10.639/2003 e a educação étnico
cultural/racial: reflexões sobre novos sentidos na escola. II SEMINÁRIO
INTERNACIONAL: FRONTEIRAS ÉTNICO-CULTRURAIS FRONTEIRAS DA EXCLUSÃO. Campo
Grande, MS, 2008. Anais, Campo Grande: Universidade Católica Dom Bosco, 2008.
Disponível em: http://www.neppi.org/eventos.php.
Acesso: 01/01/18).
Para que a Lei fosse posta em prática o
Conselho Nacional da Educação organizou Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana. O Conselho incumbiu também os Estados e seus e
municípios, através dos Conselhos de Educação, a fiscalizar o cumprimento da
Lei para que este direito não seja negado no processo educativo.
No ano de 2009 o Ministério da Educação
publicou o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Este plano foi construído como
um documento pedagógico no sentido de orientar e balizar os sistemas de ensino
e as instituições educacionais na implementação da lei 10.639/2003, ou seja,
criado com o objetivo de fortalecer e institucionalizar as orientações contidas
no marco legal.
O Plano tinha tem como base estruturante os
seis Eixos Estratégicos o fortalecimento do marco legal; a política de formação
para gestores e profissionais de educação; a política de material didático e
paradidático; a gestão democrática e mecanismos de participação social; a
avaliação e monitoramento e as condições institucionais.
Em 2010 foi publicado o Estatuto da
Igualdade Racial, Lei Federal n˚ 12.288/2010, voltadas para a promoção da
igualdade étnico-racial no Brasil e com o objetivo de promover “ações que
assegurem a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a população
negra, inclusive mediante a implementação de medidas visando à promoção da
igualdade nas contratações do setor público e o incentivo à adoção de medidas
similares nas empresas e organizações privadas”. No campo educacional, o
Estatuto da Igualdade Racial apenas reforçou a lei nº 10.639/2003. (Lei nº 12.288/2010. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/794016.pdf
. Acesso: 01/01/18)
Estudar e ensinar História da
África e dos afro-brasileiros aos discentes é a única maneira de romper com a
estrutura eurocêntrica que até hoje caracterizou a formação escolar
brasileira.
“Não existem leis no mundo que sejam capazes de erradicar as atitudes preconceituosas e que existem nas cabeças das pessoas (....). No entanto, cremos que a Educação e capaz de dar tanto aos jovens quanto aos adultos a possibilidade de questionar e de desconstruir os mitos de superioridade e de inferioridade entre grupos humanos que foram socializados (...) não temos duvidas que a transformação de nossas cabeças de professores e uma tarefa preliminar importantíssima. Essa transformação fará de nos os verdadeiros educadores, capazes de contribuir no processo de construção de individualidades históricas e culturais das populações que formam a matriz plural do povo e da sociedade brasileira. (MUNANGA, Kabengele. Superando o racismo na escola. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005).”
Com a
sanção da lei
nº 10.639/2003, identificamos as dificuldades que
passam o sistema escolar para promoverem o ensino da História e Cultura
Afro-brasileira e Africana. É preciso conjugar os esforços da União, dos
Estados e dos Municípios para garantir o cumprimento da Lei. Assim, as escolas
não são as únicas responsáveis por assegurar a educação e responsabiliza-se
pela formação continua de professores capazes de fornecer o conhecimento sobre
África e sobre os Afrodescendentes.
A
comunidade escolar tem um papel relevante na produção e disseminação do
conhecimento sobre a identidade brasileira e na superação de desigualdades que
atingem historicamente determinados grupos sociais, como negros, indígenas,
mulheres, homossexuais, pessoas com deficiência, entre outros. Segundo o Fundo
das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, as consequências de uma educação
racista e discriminatória para as crianças e adolescentes podem ser: a não
percepção do diálogo como possibilidade positiva de contraposição de ideias;
comprometimento do senso crítico e ético; atitudes de competição, agressão e
violência no cotidiano escolar; e estabelecimento de conceitos de hierarquia
racial. (Disponível em: http://www.unicef.org/brazil/pt/br_folderraci.pdf. Acesso: 13/01/2018).
A
escola e principalmente o professor devem ser os mediadores entre o educando e
o mundo, pois é por meio das interações com o mundo e com o outro que ele
constrói uma autoimagem em relação à beleza, à construção do gênero e aos
comportamentos sociais. Deve
existir um trabalho mutuo entre escola, comunidade, família e Estado para que
todos tenham seus direitos assegurados (em todos os níveis educacionais),
reconhecidos e valorizados.
Segundo PapNdiaye: "Não nascemos racistas, nos tornamos
racistas". Em uma entrevista divulgada na Revista Nova Escola, o autor
disse que os profissionais ligados à Educação podem contribuir para combater o
racismo investigando sobre a existência do racismo e de discriminações no
ambiente escolar. Também é importante ter um verdadeiro programa sobre o tema
que seja integrado ao currículo das disciplinas. (Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/pap-ndiaye-nao-nascemos-racistas-tornamos-racistas-negro-791980.shtml?page=1. Acesso: 28/01/2018).
Devemos partir do
reconhecimento da pluralidade étnico-racial, na tentativa de identificar e
superar as manifestações de racismo, preconceitos e discriminações.
Contextualizar situações de diversidade étnico-racial e a vida cotidiana nas
salas de aula, alunos e alunas, aprenderão não apenas conceitos, mas analisarão
fatos de forma crítica e poderão se capacitar para intervir na sua realidade e
transformá-la. Criar estratégias para garantir a permanência da parcela negra
da população escolar considerando a singularidade de cada um com suas
necessidades, desejos, queixas, bem como as dimensões culturais, familiares e
sociais. Abordar a questão racial como conteúdo multidisciplinar durante o ano
letivo e não apenas em datas comemorativas como o treze de maio e o vinte de
novembro, ou reduzir a temática da lei nº 10.639/2003 a estudos esporádicos e
unidades didáticas isoladas.
“Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações elaboradas com o objetivo de educação étnico-raciais positivas têm como objetivo fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consciência negra. Entre os negros, poderão oferecer conhecimentos e segurança para orgulharem-se da sua origem africana; para os brancos, poderão permitir que identifiquem as influências, a contribuição a participação e a importância da história e da cultura dos negros no seu jeito de ser, viver, se relacionar com outras pessoas, notadamente as negras. (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Disponível: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/003.pdf. Acesso: 01/01/18).”
Mesmo com todas as
exigências, muitos temas de grande importância para a construção do indivíduo
não são devidamente trabalhados pelas instituições educacionais. Muitos professores, ainda não têm a
oportunidade de aprofundar as discussões sobre o ensino de história e cultura
africana e afro-brasileira. Os livros didáticos utilizados nas escolas não têm
caráter discursivo, mas sim conceitos dentro da geografia física e econômica,
deixando as questões culturais com pouca ênfase.
Muitas escolas ainda não se adequaram a
obrigatoriedade da Lei, assim cabem algumas possibilidades de intervenção para
que elas abordem o tema e potencialize seus alunos. Inicialmente poderia ser realizada na escola
uma oficina para capacitar os docentes, pois não adianta que a temática seja
discutida no âmbito escolar se o profissional não sabe repassar o conhecimento
ao educando. Os docentes agregariam
conhecimento, disseminariam e refletiriam sobre os conteúdos a serem
ministrados, além de promoverem um espaço de debate acerca das práticas
efetivas do espaço escolar.
A educação tornou-se uma das principais manifestações contra qualquer
tipo de discriminação, pois sabemos que ela é um processo de aquisição de
conhecimentos com o objetivo de formar cidadãos e uma estratégia que pode
garantir a permanência da parcela negra da população escolar na escola. A
educação é uma prática dinâmica de formação de todos nós, mas se não possuir
suporte teórico e metodológico que embasem esta prática, pode ser um processo
que exclui e discrimina. (GOMES, Ana Beatriz Sousa. O movimento negro e a
educação escolar: estratégias de luta
contra o racismo. Disponível em: http://www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/eventos/evento2002/GT.14/GT14_2_2002.pdf. Acesso: 28/01/2018).
As consequências de uma educação racista e discriminatória para as
crianças e adolescentes podem ser: a não percepção do diálogo como
possibilidade positiva de contraposição de ideias; comprometimento do senso
crítico e ético; atitudes de competição, agressão e violência no cotidiano
escolar; e estabelecimento de conceitos de hierarquia racial. Devemos caminhar
em oposição a está perspectiva, a escola e principalmente o professor devem ser
os mediadores entre o educando e o mundo, pois é por meio das interações com o
mundo e com o outro que ele constrói uma auto-imagem em relação à beleza, à
construção do gênero e aos comportamentos sociais.
“(...) Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles negros e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Como descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da maldade destilada e instilada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. (RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. Companhia das Letras: São Paulo, 1995).”
A importância dos
estudos sobre os africanos e afrodescendentes no Brasil deve ser entendida como
parte importante da construção da identidade do povo brasileiro e, em
particular da população afrodescendente. Percebemos que o processo de educação
atual deve se adequar as demanda exigidas pelo governo e pela sociedade civil,
e que a questão educacional deve ter proposições políticas voltadas à promoção
da igualdade étnico-racial.
Referências
Talyta
Marjorie é mestre em História do Brasil e professora substituta da Universidade
Estadual do Maranhão.
Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o
Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Disponível: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/003.pdf.
Acesso: 01/09/15.
DUARTE,
Paulo César. Os afro-descentes e as políticas de inclusão no brasil: a marcha
Zumbi dos Palmares e a Lei
10639/03. Disponível em: http://famper.com.br/download/paulo.pdf.
Acesso: 28/01/2015.
GOMES,
Ana Beatriz Sousa. O movimento negro e a educação escolar: estratégias de luta contra o racismo. Disponível em: http://www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/eventos/evento2002/GT.14/GT14_2_2002.pdf.
Acesso: 28/01/2015.
LEI
nº 10.639/03. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm.
Acesso: 01/01/18.
Lei
nº 12.288/2010. Disponível em:
http://www.camara.gov.br/sileg/integras/794016.pdf
. Acesso: 01/01/18
Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm . Acesso:08/02/2018.
MUNANGA,
Kabengele. Superando o racismo na escola. Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.
RIBEIRO,
Darcy. O Povo Brasileiro. Companhia
das
Letras: São
Paulo, 1995.
OLIVEIRA,
Maria Inês Cortês. O Liberto e os outros Mundos. Dissertação de Mestrado em
Ciências Sociais, UFBA, 1979.
SILVA,
Petronilha Beatriz Gonçalves e. A identidade da criança Negra e a educação
Escolar. Palestra proferida durante seminário “Cultura e Discriminação Negra na
Escola”. Rio Grande do Norte, 1998
VALENTIM,
Rute Martins; BACKES, José Licínio. A lei 10.639/03 e a educação étnico
cultural/racial: reflexões sobre novos sentidos na escola. II SEMINÁRIO
INTERNACIONAL: FRONTEIRAS ÉTNICO-CULTURAIS FRONTEIRAS DA EXCLUSÃO. Campo
Grande, MS, 2008. Anais, Campo Grande: Universidade Católica Dom Bosco, 2008.
Disponível em: http://www.neppi.org/eventos.php.
Acesso: 01/09/15.
Muito interessante essa sua análise a respeito de um ensino mais abrangente. Onde o negro possa se sentir representado e que a partir disso consiga também sentir orgulho de suas raízes. Gostaria de saber para você enquanto professora qual a(s) principal (s) dificuldade para se colocar em prática o que manda a lei 10639/2003 no âmbito escolar??
ResponderExcluirDesde já agradeço professora!
Ruan David Santos Almeida
Olá Ruan, minha maior dificuldade é em relação ao enfoque positivista e eurocentrita da história. Por mais que façamos projetos e levamos para a sala de aula novos olhares somos puxados para um currículo engessado e para as práticas cotidianas da escola. Além disso tem o trabalho de ajudar os discentes ao auto reconhecimento e a identidade. AS. Talyta
Excluir"A escola e principalmente o professor devem ser os mediadores entre o educando e o mundo, pois é por meio das interações com o mundo e com o outro que ele constrói uma autoimagem em relação à beleza, à construção do gênero e aos comportamentos sociais. Deve existir um trabalho mutuo entre escola, comunidade, família e Estado para que todos tenham seus direitos assegurados (em todos os níveis educacionais), reconhecidos e valorizados" Certo essas palavras descrevem perfeitamente o que deve ser feito, e esclarece a importância do professor dentro é fora da sala de aula, e as multuas relações que são estabelecidas(comunidade,família e Estado), mas voltando pra realidade coloca essas palavras em prática é um dos desafios enfrentados pela educação no mundo, você como professora de ensino básico e ensino superior, com sua experiência poderia expressar as dificuldades enfrentadas e as imposivilidades de praticar essa alto-valorização das identidades africanas e o reconhecimentos dos afro-brasileiro na contrucao da cultura brasileira? Como fazer com que os futuros professores de história se conscientize e entenda a necessidades de se (re)conhecer e valorizar o ensino da cultura africana, pra compreender e respeita essa etnia?
ResponderExcluirBom dia.
ExcluirA lei 10.639 foi promulgada em 9 de janeiro de 2003 e alterou a Lei 9.394 que constitui as diretrizes e bases da educação nacional (LDB). No ano de 2008, lei 10.639/08 foi modificada pela 11.645 que incluiu também a obrigatoriedade do ensino de história e cultura indígena.
Passaram-se 16 anos e ainda encontramos dificuldades no diálogo mais profícuo no ambiente da educação básica. As dificuldades enfrentadas estão no que concerne à mudança do currículo escolar e na visão dos brasileiros sobre os olhar sobre o outro. Nossa sociedade continua sendo preconceituosa e excludente.
Por no nosso currículo ainda vigorar a ideologia eurocêntrica de colonização, sofremos com a mácula da superioridade branca sobre os negros, indígenas e asiáticos, restringindo a história e a cultura destes povos a extensões do que chamamos de “processo civilizador europeu”.
Deslocar o olhar no sentido de quebra ainda é muito difícil. Creio que a questão da conscientização não deva ser só dos profissionais da educação (no caso em tela, dos professores de história), mas como já mencionei, de toda a sociedade brasileira.
Um dos pontos positivos é que já conseguimos levar essa discussão para fora do ambiente acadêmico.
As. Talyta Marjorie
Parabéns pelo texto. A autora fala em "estrutura eurocêntrica que até hoje caracterizou a formação escolar brasileira". O que se entende por estrutura eurocêntrica? Nas regiões do país onde há um número expressivo de professores afro-descendentes isso também ocorre?
ResponderExcluirRoberto Carlos Simões Galvão
Bom dia. Obrigada pelo elogio.
ExcluirComo você pode perceber a historiografia e a educação brasileira têm registrado a necessidade da reflexão sobre conteúdos, currículos e aportes teóricos sobre o ensino de história do continente Áfricano, afro-brasileiros, indígenas (também podemos mencionar asiáticos).
Para Luiz Fernando Cerri: “a história como disciplina escolar está marcada por três características que a definirão profundamente, estendendo sua influência até a atualidade: a modernidade, o nacionalismo e o foco europeu”. (CERRI, 2009, P. 133). Entendo que eurocentrismo é a tendência em estudar a história e outras disciplinas com o enfoque na Europa, atribuindo que está seja uma cultura superior e civilizada. Como por exemplo privilegiar o estudo da vinda dos portugueses ao continente americano em detrimento a presença indígena no nosso país.
Não tenho como te afirmar se nas regiões do país onde há um número expressivo de professores afro-descendentes isso também ocorre. Os conteúdos e aportes teóricos eurocêntricos estão presentes no currículo escolar brasileiro e cobrados em provas e vestibulares.
As. Talyta Marjorie
Importante sua abordagem sobre as questões raciais. A minha questão perpassa pela contrapartida da legislação que inclui o ensino de História da África, por exemplo, e a falta de cursos de formação continuada para professores do ensino básico. Como superar essa deficiência?
ResponderExcluirBom dia Cleverton Barros.
ExcluirNa teoria as leis 10.639 e 11.645 visam dar um aporte legal para que possamos corrigir as desigualdades do ponto de vista étnico-racial no nosso sistema educacional.
Eu estaria sendo leviana em dizer que existe um passo a passo para superar essa deficiência. Visto que, muitas vezes a temática não é tratada com a devida importância para a formação de professores; nas escolas, uma pequena parcela de educadores tem formação sobre o assunto e conhecimento da lei.
Além disso, temos o empecilho da sociedade brasileira, extremamente preconceituosa; do poder público que não garante a formação continuada de educadores (como você mesmo apontou) e não exige das instituições de ensino sua aplicabilidade.
As. Talyta Marjorie
Boa tarde Talyta, considero valorosa as reflexões apontadas em seu texto. Considero à temática proposta muoto rica e ao mesmo tempo um grande desafio a ser superado pela Sociedade brasileira. Embora tenhamos amparo legal, sinto muita resistência da comunidade escolar em explorar e aproveitar melhor a tematica ora proposta. Nesse sentido gostaria de saber, em sua prática pedagógica como você explorou/explora tais temas? Qual argumento vc usaria para justificar a adoção de cotas para negros no ensino superior? Por mais que pareça óbvio é bastante recorrente tal questionamento em sala de aula. Adilson Marcos de Matos Ferrarese.
ResponderExcluirBoa tarde Talyta, parabéns pelo esforço e escrita do trabalho o mesmo traz contribuições importantes para o ensino. Gostaria de saber qual a principal dificuldade você identifica para a realização da implantação da educação étnico racial como ferramenta de conscientização histórica?
ResponderExcluirAlessandro Lopes Campelo
Bom dia.
ExcluirAlgumas dificuldades, além das apontadas em outras respostas, é em não conseguir aliar teoria e prática; alguns profissionais que veem a temáticas da cultura africana, afro-brasileira e indígenas (podemos mencionar asiática também) como algo distante e que não está inserido em nossa sociedade. Além disso poder público apenas legislou, mas não garante a formação continuada de educadores e não exige das instituições de ensino sua aplicabilidade.
As. Talyta Marjorie
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa noite Talita Marjorie, quero aqui agradecer pelo seu esforço em reforçar o quanto o Ensino de História é importante, e por abordar leis e fundamentacões muito importantes. Diante disto gostaria de saber se a legislação que inclui o ensino de História da África, por exemplo, e a falta de cursos de formação continuada para professores do ensino de história básico. Como superar essas deficiências?
ResponderExcluirÉrica de Araújo Lourenço Morais
Bom dia Erica. Eu que agradeço pela sua leitura.
ExcluirVou responder sua pergunta com a mesma resposta que dei para o Cleverton Barros.
"Eu estaria sendo leviana em dizer que existe um passo a passo para superar essa deficiência. Visto que, muitas vezes a temática não é tratada com a devida importância para a formação de professores; nas escolas, uma pequena parcela de educadores tem formação sobre o assunto e conhecimento da lei.
Além disso, temos o empecilho da sociedade brasileira, extremamente preconceituosa; do poder público que não garante a formação continuada de educadores (como você mesmo apontou) e não exige das instituições de ensino sua aplicabilidade."
As. Talyta Marjorie
Visto que a lei 10.639 obriga o ensino afro-brasileiro no ensino, particulamente nas artes, literatura e história, é observado muita pouca atenção nesse conteúdo pelas escolas do ensino básico.
ResponderExcluirVisto que é essencial que esse ensino afro-brasileiro e africano esteja presente nas escolas, qual a maior dificuldade de se inserir esse conteúdos na formação escolar dos alunos? Não de forma pontual, como ocorre na maioria das vezes, se dando atenção a essa temática quando é 13 de maio ou 20 de novembro, mas de uma forma continua e interdisciplinar.
Ao seu ver essa dificuldade de inserção é encontrada mais fortemente na formação dos docentes, que possuem dificuldade de abordar o assunto com diferentes metodologias, ou são os manuais didáticos, que muitas vezes priorizam a história que estará presente nos exames para entrar na faculdade, mas que esquecem uma história fundamental para a construção de uma sociedade que respeita as diferenças multiculturais ?
Natália Alves de Almeida
ExcluirBom dia.
Foi como eu respondi para o Cleverton Barros.
A temática não é tratada com a devida importância para a formação de professores; nas escolas, poucos educadores tem formação sobre o assunto e conhecimento da lei. Devemos levar em consideração o obstáculo da nossa formação como sociedade brasileira, extremamente preconceituosa; e o poder público que Legisla sobre a temática, mas não garante a formação continuada de educadores ou mesmo não exige que as instituições de ensino apliquem a Lei.
As. Talyta Marjorie
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQuanto ao ensinar embasado na lei 10.639/2003 sabemos da dificuldade que se tem, uma vez que, o professor é guiado institucionalmente por diretrizes eurocêntricas. Quanto ao ensinar história e cultura africana e afro-brasileira tu como docente já encontrastes resistência? E (se) quando encontrou, quais medidas cabíveis um professor que se dedica ao processo de ensino com recorte na temática étnico-racial deve tomar?
ResponderExcluirAndrisson Ferreira da Silva
As leis 10.639/2003 E 12.645/2008 vieram contribuir na luta pelo reconhecimento dos negros e indígenas na História do Brasil. No caso específico da população afrodescendente, percebe-se a mto tempo a permanência da teoria eurocêntrica na História de um modo geral. Infelizmente, a desvalorização do africano e seus descendentes na construção do Brasil enquanto nação é facilmente detectado nos livros didáticos brasileiros.
ResponderExcluirNo entanto, tenho percebido q mesmo com a falta de recursos adequados e até a recusa de mtos educadores, o trabalho com a educação etnico-racial tem crescido a cada ano. É um trabalho difícil mas fundamental na luta por educação de qualidade e de fato engajada na luta por uma sociedade justa e igualitária para todos.