O LUGAR DO INDÍGENA
NA BNCC E AS PERSPECTIVAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
Os regulamentos que versam sobre a atual estrutura
curricular das escolas brasileiras foram traçados a partir da promulgação da
Constituição Brasileira de 1988. Com a publicação deste documento é que foi possível observar
significativos avanços no que se refere às questões indígenas. Reconhece-se, no
Art. nº 231, a sua organização social própria,
os seus costumes, “[...] línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens” [BRASIL, 1988].
No
contexto da formação curricular, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 9.394/96 e as Diretrizes Curriculares Nacionais impulsionaram
a obrigatoriedade de se inserir a temática indígena nos diferentes níveis
escolares e de formação. Neste conjunto, podemos ainda citar o papel do Programa
Nacional do Livro Didático - PNLD em incluir em seus manuais didáticos os povos
indígenas na configuração da história do país.
No
entanto, sempre caberá a crítica entre o distanciamento do que fora proposto
nos marcos regulatórios ao que, de fato, se tem ainda hoje na prática. Sem
adentrar no âmbito da análise textual dos citados documentos, cujas críticas
estão muito bem abordadas por variados estudos já realizados acerca da
temática, os discursos presentes nos manuais didáticos mantêm a visão da
homogeneidade cultural e da passividade indígena frente ao processo colonizador
e civilizador ao longo de mais de 500 anos da História do Brasil. Do mesmo modo,
os cursos de formação docente também estão distantes do debate, e, por
consequência, muitos professores que atuam nas escolas de ensino básico possuem
pouco ou nenhum conhecimento sobre questões singulares, tais como a diversidade
cultural dos povos indígenas, suas histórias, seus processos de resistências e
a atual condição e ocupação destes em diversos espaços do saber e fazer.
Ainda
no período de discussão e construção das Diretrizes Curriculares Nacionais, já
se apontava para necessidade de uma base nacional curricular. No ano de 2010,
por exemplo, o Art. 14 da Resolução N°. 04/2010, definiu que:
“A base nacional comum na Educação Básica constitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, expressos nas políticas públicas e gerados nas instituições produtoras do conhecimento científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na produção artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; e nos movimentos sociais”. [BRASIL, 2013, p. 67]
Sob
essa ótica, em junho de 2015 tiveram início as discussões com foco nas
primeiras propostas para uma base nacional comum e, em setembro deste mesmo
ano, surgiu uma primeira versão. Como qualquer documento que incide diretamente
nas questões públicas, a Base Nacional Comum Curricular - BNCC apontou, desde
seu início, os perfis políticos que tenderiam à sua concretização, e, neste
sentido, sofreu diversas críticas por parte de profissionais de diversas áreas
do saber, o que acabou adiando sua homologação.
No
âmbito do conhecimento histórico, a primeira versão apresentava-se numa
percepção ainda tradicional, mantendo os mesmos marcos temporais e
historiográficos usados atualmente, como também se mostrou pouco inovadora no
sentido da historiografia. Sobre a temática indígena, as generalizações e superficialidades
mantinham-se da mesma maneira como a conhecemos, sem apontar para questões das
diversidades ou para os movimentos de resistências desses grupos ao longo da história
do país.
Sem
uma definição ou sequer simpatia pela proposta apresentada, foi necessário
esperar mais oito meses entre consultas públicas e discussões dentro das áreas
de conhecimento para apresentação de um novo texto. Assim, em maio de 2016, o MEC
apresentou a sua segunda versão da BNCC.
A
segunda proposta já expunha um conteúdo mais reflexivo e atualizado, começando
pelo uso do termo ameríndio, o qual abrange as diversidades culturais dos povos
indígenas das Américas como um todo. Na verdade, essa versão toma um caráter
inovador nas questões conceituais e de conteúdo ao abordar, dentro da
diversidade e conhecimento das culturas ameríndias, povos da América do Norte,
nunca antes tratada pelos livros didáticos ou nos currículos escolares.
Apesar
das críticas apresentadas por especialistas no documento Movimento pela Base
Nacional Comum, ao afirmarem que “A BNCC de História privilegia fatos, em vez
de conceitos” [DOCUMENTO DE ANÁLISE DA BNCC, 2016, n.p.], no que concerne à temática indígena, é possível perceber um
avanço quanto aos termos utilizados, tais como: “etnocídios”, “impactos da
conquista”, “domínio colonial” ou “violência implícita da catequese”, que
passam a transformar o modo de ver a história desses povos, tradicionalmente
vistos apenas pelo viés eurocêntrico e dos conquistadores, e agora os insere
sob o olhar dos vencidos. Nesta perspectiva, aponta-se para conteúdos pouco
conhecidos, em especial, os movimentos de resistência indígena no Brasil, entre
eles a Confederação dos Tamoios (1556-1567) e os
Levantes dos Tupinambás (1617-1621) [BNCC, 2016, p. 468].
Após
debates, consultas e alterações, em 20 de dezembro de 2017, a BNCC foi
finalmente homologada. No seu conteúdo de História para o Ensino Fundamental, a
construção do sujeito, a compreensão das diversas culturas em diferentes
espaços geográficos, a compreensão do documento histórico, a percepção frente
às diferentes versões da história e a identificação dos eventos considerados importantes na história
do Ocidente serão as diretrizes norteadoras para a formação e o ensino de
alunos neste grau escolar. Porém, comparando as duas últimas versões da Base
Curricular, mesmo considerando as críticas quanto à segunda proposta, esta era
a que mais avançava frente às discussões sobre as populações indígenas.
Ao referir-se às Leis 10.693/2003 e 11.645/2008, as
questões indígenas passaram a estar atreladas de forma quase indissociável das
discussões que envolvem a chegada, a permanência e o cotidiano dos africanos no
Brasil. Não diminuindo a importância deste debate, pelo contrário, mas o que se
vê no documento homologado em 2017 é a permanência de conteúdos generalistas
sobre os povos indígenas das Américas, apesar do texto apresentar outra ideia:
“A inclusão dos temas obrigatórios definidos pela legislação vigente, tais como a história da África e das culturas afro-brasileira e indígena, deve ultrapassar a dimensão puramente retórica e permitir que se defenda o estudo dessas populações como artífices da própria história do Brasil. A relevância da história desses grupos humanos reside na possibilidade de os estudantes compreenderem o papel das alteridades presentes na sociedade brasileira, comprometerem-se com elas e, ainda, perceberem que existem outros referenciais de produção, circulação e transmissão de conhecimentos, que podem se entrecruzar com aqueles considerados consagrados nos espaços formais de produção de saber”. [BNCC, 2018, p. 401]
Ao que parece, entre o texto proposto e os
conteúdos sugeridos existe uma tentativa única e exclusiva de cumprir as
exigências legais, ou seja, comenta sobre os indígenas, mas sem provocar
qualquer tipo de reflexão ou questionamentos que promovam a ruptura dos
paradigmas já consolidados.
Deste modo, cabe algumas observações pontuais sobre
a terceira versão: nesta última, abriu-se mão do termo ameríndio como entendimento
amplo dos povos originários que
estendeu-se desde a pré-história até o período da colonização; exclui-se os
povos indígenas da América do Norte; os povos mesoamericanos e andinos surgem
no contexto da conquista, ignorando a preexistências destes antes da chegada
dos europeus; a apresentação sobre os primeiros americanos não aponta para
discussões mais atualizadas; e o confronto dos conquistadores frente aos povos
indígenas no Brasil tende a um sentido conciliatório.
Também nos chama a atenção o fato de que, na
segunda proposta, a temática indígena é constante do 4º ao 9º ano e, de forma
mais incisiva, no 7º. Na versão final, os conteúdos mais reflexivos e
provocativos aparecem apenas no 8º ano, enquanto nos demais o teor apresenta-se
de forma mais dispersa.
E como essa configuração da BNCC se refletirá na
prática? Neste caso, podemos abordar duas vertentes: a primeira pelo viés da
formação docente, e a segunda pelo mercado de livros didáticos.
Começando pelo processo de formação docente, em
julho de 2015, a publicação da Resolução n° 02 do Conselho Nacional de Educação
definiu as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a formação inicial em nível superior e para a formação
continuada. Este documento não determina exatamente quais conteúdos devem ser
abordados pelas estruturas curriculares, mas deixa explícito, em seu Art. 13, §2, que os cursos de formação deverão
garantir conteúdos que versem sobre direitos humanos e diversidade
étnico-racial. Ou seja, pautar as questões afro e indígenas no contexto da
sociedade brasileira tornou-se uma obrigatoriedade.
Esse
foi, de fato, um grande passo na direção da abrangência temática, discursiva e
historiográfica para as licenciaturas em História, e que, por consequência,
garantiria, a princípio, a admissão da história e cultura dos povos indígenas
nos programas curriculares. Essa percepção se coadunou, em seguida, na mesma
direção das discussões da Base Curricular. Desta forma, podemos considerar que
ambos os documentos apresentam, de certo modo e cada um com seus limites de
abrangência e atuação, uma mudança na educação e no ensino do país, quando
tratamos do olhar sobre os povos indígenas.
Porém,
não podemos nos furtar de alguns questionamentos essenciais e necessários. Se
os cursos de licenciatura com seus currículos vigentes passarão por adequações,
e os alunos neles inseridos serão mobilizados nesse novo contexto, que garantia
teremos de que os cursos de graduação incluirão nas suas estruturas
curriculares componentes que tragam a história dos povos indígenas? E quanto aos
professores já em atuação no Ensino Básico, como estes se ajustarão aos
conteúdos da BNCC?
Numa
visão pragmática, considerando o teor da proposta homologada da Base
Curricular, em que os povos indígenas estão contemplados, mas ainda com certo
grau de superficialidade, então, a perspectiva é, na melhor das hipóteses, de
uma permanência do paradigma da questão dos povos originários.
Se
olharmos para os professores já em atuação, lhes restará, senão, os livros
didáticos. E aqui entramos na segunda questão levantada, a que se refere ao PNLD.
O Programa Nacional do Livro Didático, criado em 1995, surgiu com a proposta de
regularizar as normas vigentes e os conteúdos a serem abordados nos manuais
escolares aplicados no Brasil. Desde então, o Programa vem acompanhando as
mudanças na legislação educacional, inclusive no que preza sobre as Leis 10.693
e 11.645. Entretanto, apesar do acompanhamento e organização estabelecidos pelo
PNLD, devemos considerar que
“O livro didático é um objeto "múltiplas facetas", sua construção ocorre através de interferência do Estado sob os conteúdos e produção mercadológica das editoras para vender os produtos aos alunos, pais e professores. A posição ideológica do livro didático é acentuada diante de momentos ideológicos hegemônicos, abordando principalmente discursos nacionalistas”. [SILVA, 2018, p.4]
Nos livros de História, tradicionalmente, a abordagem
sobre a temática indígena tem sido de forma generalizada. Analisando os manuais
escolares publicados após a Lei 11.645/08, vemos que os termos são ainda
tratados de forma genérica. Pesquisa feita por Anderson Bastos da Silva (2018) entre
os anos de 2017 e 2018 mostra que no Ensino Fundamental, apenas nos 6º e 7º anos
os autores fazem abordagens sobre os primeiros povos das Américas e dos índios
do Brasil, e no Ensino Médio o tema repete-se com um pouco mais de
aprofundamento no 1º ano. Entretanto, a análise geral sobre esses materiais
demonstra que:
“[...] a Lei 11.645/2008 possibilitou a obrigatoriedade do ensino indígena, entretanto, ainda é observável duas questões primordiais: os livros contêm poucas páginas referentes à temática, se comparado, por exemplo, com a história dos povos da antiguidade clássica e os discursos relacionados a eles ainda possuem geralmente a estruturação eurocêntrica. Interessante ressaltar que os livros destacam, principalmente, a realização da antropofagia e desenvolvimento do escambo, duas práticas distintas que induzem a outras duas questões, selvageria e ingenuidade. Observa-se, também, que poucos livros discutem essas questões a partir da visão dos povos indígenas”. [SILVA, 2018, p.7]
Assim, se direcionarmos nosso olhar para o lugar do
indígena na nova Base Nacional Curricular Comum, observamos as permanências no
discurso sobre os povos originários do Brasil e das Américas, seja na forma dos
marcos legais ou nos manuais didáticos que circulam, e que, muito
provavelmente, circularão pelas diversas escolas do país. Nesta perspectiva, ficamos
com a nítida impressão de que tudo seguirá como está, ou seja, o descaso quanto
à questão se manterá imperativa, numa tentativa constante de manter tais povos
num papel de invisibilidade, ou no melhor das hipóteses, como figuras
ilustrativas de um país colonial.
Referências
Cláudia Cristina do Lago Borges é Professora
Associada do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba - UFPB
e Coordena o Grupo de Pesquisa Abaiara – Estudos Indígenas da Paraíba.
Vânia Cristina da Silva é doutoranda em História
pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás - UFG
e Pesquisadora Adjunta do Grupo de Pesquisa Abaiara – Estudos Indígenas da
Paraíba.
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Disponível em: http://www2.planalto.gov.br/presidencia/legislacao.
Acesso em: 10 fev. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Lei N.° 9.394 de 20 de dezembro de 1996.
Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. (1996). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm.
Acesso em: 18 fev. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Lei N.° 10.639, de 09 de janeiro de 2003.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm.
Acesso em: 26 jan. 2019.
BRASIL. Presidência da República. Lei N.° 11.645, de 10 de março de 2008.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 26 fev. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução N°02, de 02 de julho de 2015. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=98191-res-cp-02-2015&category_slug=outubro-2018-pdf-1&Itemid=30192.
Acesso em: 01 mar. 2019.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais. Ministério
da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara Nacional de Educação Básica. 2013.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Consulta
Pública. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2015. Disponível em: http://historiadabncc.mec.gov.br/documentos/BNCC-APRESENTACAO.pdf.
Acesso em: 26 fev. 2019.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Segunda
versão revista. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2016. Disponível em: <http://historiadabncc.mec.gov.br/documentos/bncc-2versao.revista.pdf>.
Acesso em: 26 fev. 2019.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf.
Acesso em: 26 fev. 2019.
Movimento
pela Base Nacional Comum. Disponível em: http://movimentopelabase.org.br/wp-content/uploads/2016/07/Análise-cr%C3%ADtica-1-1.pdf. Acesso em: 26 fev. 2019.
SILVA, Anderson Bastos. A imagem do índio no livro
didático. João Pessoa: UFPB, 2018. Relatório Final de Pesquisa.
Muito pertinente essa discussão sobre BNCC e o tema da lei 11645/2008. Considerando, algumas questões colocadas no texto sobre a ausência ou o pouco conhecimento dos professores sobre a temática indígena, percebendo essa lacuna em sua formação como resultado de um debate fragilizado sobre os povos indígenas, mas também, uma precariedade evidente e por vezes controverso nos livros didáticos que tratam da temática indígena, quais estratégias de ensino-aprendizagem o professor da educação básica deverá fazer para dar conta desse conteúdo para seus alunos com um debate mais qualificado e próximo da realidade indígena no Brasil?
ResponderExcluirObrigado,
Cristiano Augusto Durat
Olá Cristiano, de fato a questão indígena precisa muito ser trabalhada, mas considerando essa relação entre passado e presente. Creio que o mais importante nesse processo é fazer uma discussão pautada nas reflexões entre a história e a cultura, saindo do paradigma da cristalização da imagem do indígena do século XVI. Questões atuais como os movimentos de resistência, demarcações de terras, perdas dos direitos, e ao mesmo tempo considerar que a inserção das práticas ditas modernas na cultura indígena não modifica ou os impele de suas identidades culturais. Ou seja, a velha máxima de que se o índio usa celular e a internet deixou de ser índio, então os "homens brancos" se tornariam índios por que dormem em rede? Instigar os alunos a um processo de reflexão e dialogar com questões pautadas nessa relação entre o passado e o presente é sempre um bom caminho. E, claro, fugir sempre dos estereótipos: pintar os alunos e fazer peninhas de papelão imitando cocar, é reduzir uma diversidade cultural existentes entre os povos indígenas a uma caricatura quase carnavalesca.
ExcluirObrigada pelas indagações
Cláudia Lago
A temática indígena nas escolas precisa ser trabalhada de maneira mais aprofundada e respeitando as diferenças culturais das diversas etnias que existem no Brasil. Infelizmente, muitas vezes os professores abordam o assunto de forma genérica ou superficial, conforme foi citado na pesquisa. Para suprir isso, o docente terá de estar em constante atualização. As atividades praticas, como por exemplo uma visita dos alunos a uma aldeia ou convidar um representante indígena para expor suas experiencias pode ser uma alternativa viável?
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho
Elder Sidney Saggioro
Olá Elder,
ExcluirDe fato trazer um indígena para sua sala de aula para conversar sobre a sua história e sua cultura, ou ainda levar os alunos até uma aldeia é a melhor ação para ajudar a desconstruir uma imagem construída há anos. Em experiências adotadas com alunos de História da UFPB em escolas do Ensino básico de João Pessoa, com turmas do 6o. ano, fizemos esse trabalho e o resultado foi maravilhoso. E o mais impressionante é que alguns alunos já demonstravam pequenas mudanças nessa percepção sobre os povos indígenas, mas tudo ainda parecia apenas como uma ilustração do livro didático, e conhecer e conversar com um indígena, real, foi romper conceitos já pré-determinados. Se você tiver acesso a uma comunidade indígena ou ainda conhecer algum integrante de uma aldeia próxima da sua região, faça a experiência, seus alunos agradecerão.
Obrigada
Cláudia Lago
Em nossa região, noroeste de Mato Grosso, a nossa cidade tem ao seu redor 06 etnias indígenas que estão em constante conflito com os madeireiros da região e agora chegando a soja. É aterrorizante o preconceito da população com os povos indígenas aqui!
ResponderExcluirO pior é que temos muitos docentes com o discurso e as ideias do latifundiários da nossa região. Como seria possível amenizar estas tensões em nossa região? Sabendo que o nosso chão, que é a educação, está impregnado de opositores as questões indígenas? Considerando que o próprio material didático não ajuda?
Boa noite, Celimara.
ExcluirSeu relato é bastante preocupante, imagino que não deve ser nada fácil conviver com essa situação de desejar mudar uma realidade e se ver sem o apoio de muitos colegas. Mas é exatamente diante de situações como esta, relatada por você, que percebemos como temos uma função social essencial em nosso meio. Veja bem, quando você questiona sobre como amenizar as tensões em sua região, eu logo penso que, como professora, o caminho é justamente propiciar aos seus alunos o acesso à realidade indígena no Brasil atual. Por exemplo: ao discutir determinados conteúdos do currículo, propicie que a temática indígena seja abordada, mesmo que o material didático disponível não trate a questão. Sabemos que ainda há uma infinidade de lacunas neste quesito, uma vez que muitas obras didáticas aprovadas pelo PNLD ainda não atendem a essas especificidades de forma satisfatória. Não raras vezes, já me deparei com livros que mantém a imagem do indígena presa ao processo de colonização e nada mais. Contudo, após a aprovação da lei N°11.645/2008, devemos considerar que, a passos lentos, isso vem melhorando. Mas uma proposta interessante para suprirmos essa carência é aliarmos o Ensino de História às “novas” tecnologias.
Existe um site muito bom (https://pib.socioambiental.org/pt/P%C3%A1gina_principal), não sei se você o conhece. Mas seria interessante, por exemplo, propor uma aula com acesso às mídias e, caso tenha laboratório de informática na escola, levar os estudantes para explorarem todos juntos as informações sobre o assunto. Peça que levem o livro didático também, assim, ao tempo em que você debate um conteúdo do currículo presente no material impresso da turma, pode ir fazendo comparações com o que existe neste site ou em outros que você conheça. Acessar notícias atualizadas sobre esses povos também faz com que a aula seja bastante proveitosa, pois desmistifica a ideia de que o índio de hoje deva se manter idêntico à imagem construída sobre eles em séculos passados. A relação entre passado e presente tende sempre a suscitar a participação dos estudantes no debate, o que enriquece a aula e desmistifica a ideia de que estudar história se resume à compreensão do que ocorreu no passado sem relação alguma com o que se vive hoje.
O que quero dizer é que, apesar do desafio do convívio com docentes que não cumprem com sua função social de forma plena, não desista de despertar o senso crítico dos seus alunos através do estudo da história. O fato de estar participando deste debate aqui do simpósio já demonstra que você é uma professora que deseja fazer diferente. Parabéns!
Obrigada por participar.
Vânia Cristina.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ possível sustentar uma produção de povos indígenas? Se sim, quais os pressupostos usados para não incluir essas produções no ensino, desde a formação de professores? Visto que existe uma lei assegurando essa aprendizagem.
ResponderExcluirSuzane Lorenço da Silva
Prezada Suzane,
ResponderExcluirObrigada pelo comentário em nossa comunicação. Quando você menciona sobre "uma produção de povos indígenas", compreendi que sua questão diz respeito à produção de materiais didáticos pelos próprios indígenas sobre a sua história. Certo?
Na verdade, durante todos esses séculos, a história dos povos indígenas sempre foi contada a partir da visão do outro sobre eles. O que sabemos acerca dos primeiros contatos entre indígenas e europeus em terras brasileiras trata-se de uma história contada pelos próprios colonizadores. Mas, atualmente, vem ocorrendo inúmeras tentativas de mudanças nesse sentido, isso por parte de pesquisadores dentro das universidades, que buscam a construção de uma história que considere, também, a versão do colonizado; e, ainda, por parte de muitos indígenas que ocupam variados espaços educacionais, tal como as universidades. Diante disso, já existem várias produções de materiais didáticos elaboradas por esses grupos, mas são obras pouco disseminadas, ficam muito restritas ao local onde foram produzidas. Dentro das próprias escolas indígenas, que têm assegurado por lei o direito à produção e utilização de materiais didáticos específicos sobre a história do seu povo, isso ainda não acontece como deveria. Falta incentivo, investimento, o que resulta em ótimos materiais que acabam não chegando às nossas mãos, a não ser quando são lançados nas mídias e podemos acessar.
Vânia Cristina da Silva.