O
ENSINO DE HISTÓRIA E A LEI 10.639/2003, UMA PERSPECTIVA DOS CONHECIMENTOS E
CONTRIBUIÇÕES DO NEGRO PARA A SOCIEDADE
Trabalhar na sala de
aula a obrigatoriedade da Lei 10.639/2003 torna possível que professores da
rede de ensino público e privado levem a seus alunos conhecimentos acerca do
ensino da história da cultura africana e afro-brasileira. Cabe então, ao
professor, elencar ações importantes do negro, reforçando seu papel fundamental
na construção social. Ações essas que culminam no desmonte da estrutura de uma
supremacia branca, construída de forma impositiva e violenta, para que seja
destituído o racismo pelo respeito.
A
visão no ensino brasileiro, por parte de muitos, é infelizmente de que a
história do negro foi de apenas submissão ao homem branco e que sua presença
foi desfocada nas construções sociais. Isso se deriva da ênfase errônea dada
pelos docentes enfaticamente ao período escravocrata. E seguindo a percepção de
Lima (2018) quanto a isso: “Não dá para continuar reproduzindo, normatizando ou
normalizando a história do negro apenas sob a perspectiva escravagista e de
subalternização!”.
Podemos
destacar também Brito e Machado (2017), que trazem a perspectiva de se reforçar
a importância de não fixar a história do negro somente do ponto em que foi
transformado escravo:
“Evidenciar positivamente referências ancestrais da história da África relaciona-se ao fato de o estudante afro-brasileiro passar a conhecer a história de seus antepassados, não apenas no contexto exclusivo da escravização. O que tende a contribuir com uma formação que fortalece sua autoestima, a noção de pertença e autoaceitação”. [Brito; Machado, 2017, p. 107]
O currículo educacional brasileiro por muito, esteve restrito ao que é a realidade do processo
de formação da sociedade brasileira. Podemos destacar que a lei aqui já
supracitada foi decretada no ano de 2003 e o ensinar história durante os anos
anteriores não contemplava, verdadeiramente com base legal, o processo de
formação da sociedade brasileira, pois não havia sancionamento de uma lei que
assegurasse a obrigatoriedade do ensino da história da cultura africana e
afro-brasileira. No entanto, o ensino em torno dessa temática tornou-se obrigatório,
o que assegurou os ensinamentos acerca da história e cultura de uma parcela
invisibilizada – os negros.
É necessário perceber
que em decorrência da colonização do homem branco europeu na América Latina
(que por sua exacerbada autoridade tornou-se monopolizador e detentor das
riquezas e da sapiência dos códigos ensinados nas instituições educacionais,
seus conhecimentos foram reproduzidos nas Américas de forma impositiva), o
negro esteve restrito aos espaços educacionais. Sendo assim, a perspectiva que
se tem é da necessidade de se trabalhar essa lei que se faz necessária, é
claro, além de sua obrigatoriedade. E ainda quanto a isso Wedderburn (2005, p.
33) citando Obenga (2001) enfatiza: “[...] O docente incumbido da missão de
ensino da matéria africana se verá obrigado durante longo tempo a demolir os
estereótipos e preconceitos que povoam essa matéria”.
É possível abordar nas esferas de ensino as
contribuições dos africanos e dos afrodescendentes para as diversas áreas do
conhecimento. Essas abordagens possibilitam o desenrolar do processo de
ensino-aprendizagem quanto a alunos que são negros e têm conceitos deturpados,
(isso decorrentemente por não terem sua identidade negra positivada no contexto
em que está inserido), possibilitando aos mesmos que se identifiquem, fortalecendo
a valorização de suas raízes. E quanto aos que não são adquiram ou reforcem o
respeito.
Além disso, falar de
África para estudantes das diferentes esferas de ensino permeia uma desconstrução
de estereótipos e esse ensino deve ser valoroso ao ponto de remeter que o papel
do negro tornou-se extremamente benéfico mediante as suas contribuições. E
consoante ao pensamento de Fernandes (2005) podemos perceber:
“Consideramos, pois, de fundamental importância a inclusão do ensino de história da África no currículo da educação básica, por saber que a instituição escolar tem um papel fundamental no combate ao preconceito e à discriminação, porque participa na formulação de atitudes e valores essenciais à formação da cidadania de nossos educandos”. [Fernandes, 2005, p. 381]
Logo a inclusão do
ensino no currículo educacional possibilita conhecer sobre África e o que dela
deriva. Não se trata de ignorar outras formas de conhecimentos que no Brasil
foram tão propagadas, como a história que narra os ocorridos no ocidente, mas instigar
para que esse ensino culmine em uma aprendizagem que permita por parte do aluno
a valoração de suas raízes – raízes em África.
Então, partindo da
necessidade de valoração de uma identidade negra, podemos perceber que o não
identificar-se foi propiciado a partir de um ato perverso e eurocêntrico. E
sobre esses fatores que fortaleceram a reclusão do negro no campo das
contribuições Brito e Machado (2017) destacam:
“Uma das principais perversidades realizadas pelo eurocentrismo foi a negação do passado científico e tecnológico dos povos africanos, de modo a constituir uma mentalidade de longa duração que não reconhece as contribuições dessa população para a construção do conhecimento universal”. [Brito; Machado, 2017, p. 112]
Portanto, a sala de
aula é o lugar certo para o embate a essa construção de negação. Os conceitos
fomentados por um professor implicará na formação cidadã, o que corroborará em
uma sociedade que reconhece sua pluralidade étnica e não nega a história e
cultura africana, o que culmina também na redução do racismo.
Ainda acerca do papel
do professor, para facilitação no processo do pertencimento de si, deverá se
encaminhar o aluno para o entendimento do contexto no qual está inserido; o
contexto social brasileiro, que é o de uma sociedade contextualizada em uma
pluralidade étnica.
Todavia, partindo do ponto em que é muito
comum encontrar nas salas de aulas alunos visivelmente negros
que não se consideram negros, levar à sala de aula a perspectiva de negros que
foram e são colaboradores em diversas áreas do conhecimento, propicia o
empoderamento do aluno e implica também no autoreconhecimento. Sendo assim, o
ensinar história deve se sobrepor ao lecionar apenas os fatos históricos e
cronológicos, ensinar história vai implicar em uma consciência de si através de
uma abordagem que não exclui o negro da história das contribuições.
Abordagem
das Contribuições
Para esse
processo educacional na perspectiva de trabalho embasado, sobretudo, pela lei
10.639/03, que se configura no combate ao racismo, é necessário ao educador que
trabalha no cumprimento da mesma, levantar questionamentos com seus alunos.
Tais questionamentos são: antes de ser forçosamente escravo, quem era o negro?
Com o que ele contribuiu? Que espaço ocupou? A ciência e a tecnologia é um espaço
para negros?
Responder a
essas indagações será um passo crucial para se enfrentar um universalismo
branco que origina o racismo, presente na mente de muitos alunos que não veem
África como um espaço de poder e de produção de conhecimento. E em procedência disso
não veem também o que é afro como inteligente, tomando um segmento de ideia que
o que dela vem não é padronizado, conforme o padrão imposto pelo homem branco
através do seu espaço de poder imposto à força.
Logo, valerá
responder quem era o negro antes de ser escravo. É preciso entender que
anterior à colonização do homem branco em África no denominado período
pré-colonial, o africano vivia dentre grandes reinos e impérios, convivendo em
meio a uma política socioeconômica patrimonial e matrimonial, caracterizada por
sua complexidade, de acordo com Pereira, Visentini e Ribeiro (2018).
O africano já vivenciava uma sociedade que
vivia em constante evolução, o que desvia para a longe do conceito de África primitiva
que foi propagado. O africano era livre e fomentador de um continente em permanente
movimento. O espaço que ocupou antes da imposta subalternidade foi espaços de
poder, e também espaço de desenvolvimento político e social. Então, o campo
científico e tecnológico é seguramente um espaço para negros, visto que, sua
propagada incapacidade intelectual cai por terra mediante a seus feitos,
conhecimentos e invenções que desenvolveram.
E ainda, a intenção de
levantar esses questionamentos é abranger uma cosmovisão onde o negro ocupa sim
um espaço de poder, e que grande conhecimento por ele foi desenvolto. Levar
isso possibilita ainda uma interferência no darwinismo social, onde teorias
excludentes possibilitaram que o negro e consequentemente os seus conhecimentos
fossem menosprezados mediante a sua cor o que vai implicar em um enfrentamento
também ao racismo científico.
É possível destacar
que dentro do contexto da educação brasileira o docente há de levar exemplos de
personalidades negras à sala de aula, o que vai possibilitar o entendimento de
que não houve uma inércia do negro nas construções sociais. Logo, o professor
tem uma estratégia de combate ao racismo, uma vez que, se trabalha na
perspectiva da contribuição do homem africano e afro-brasileiro que foi
reprimido aos status de conhecimento e suas contribuições foram negadas
mediante a uma supremacia dominantemente branca e racista. Essa negação das
contribuições, de acordo com Nascimento (2018) se deriva de um racismo epistêmico.
Pelo seu raciocínio podemos entender:
“[...] um conjunto de configurações de hierarquização do pensamento para a construção de uma epistemologia branca, heterossexual e de matriz burguesa que decide o que é conhecimento e destrói, subrepresenta [sic], invisibiliza e apaga as genealogias de produção intelectual não-branca”. [Nascimento, 2018, p. 114]
Sabendo da
existência de um racismo epistêmico que configura na sub-representação do negro
e na sua invisibilidade, torna-se ainda mais necessário mediante a isso tornar
visível o negro no seu fundamental papel social, enfatizando suas contribuições.
E seguindo os questionamentos, estaria o
negro inerte e inapto? Percebe-se que não. A sala de aula é o espaço específico
para o desmonte de uma ideologia racista desenvolvida no intelecto de muitos,
por vezes inconscientemente, por outras não.
Tomando essa perspectiva de se perceber que houve uma
subestimação quanto ao que vem de África, sendo questionada a capacidade
intelectual de seus, os enfrentamentos hão de ser promissores pelo docente. Será
necessário despir-se de conceitos, achismos e ideologias ultrapassadas, o
professor deverá elencar na sua aula fatores históricos para que seja promovido
o respeito quanto ao que é e o que vem de África.
Cabe ressaltar o quão
importante é falar sobre África, pois dela pode-se elencar inúmeras
contribuições. Cabe então, destacar Serra (2018, p. 24), direcionando sua
crítica sobre o ensino deste continente, onde a autora destaca que ensinar
sobre África tem que deixar de ser um problema, para tornar sua aplicabilidade
efetiva, pesando em como o negro foi e é protagonista, para que haja a inclusão
do mesmo.
E o professor elencará
feitos que o homem negro subestimado por sua capacidade mental foi capaz de criar,
desde pequenas engenhocas a grandes invenções. Logo, explorá-las na disciplina
de história não se é dificultoso, Carlos Machado em sua obra “Ciências e
Tecnologias Africanas”, elenca um rol com mais de noventa inventores negros de
determinadas partes do mundo, que criaram e fortaleceram a sua participação no
campo científico e tecnológico. Começa então o processo de visibilidade do
negro, o racismo científico começa a perder seu espaço, tudo isso através de processos
de luta dos diferentes movimentos negros do mundo que culminaram para a criação
da lei 10.639/2003.
A África em sua
magnitude abrigou muitos produtores de conhecimentos. Cunha (2005, p. 6-15)
reforça o legado pelos africanos deixados, nos quais elenca suas contribuições
à medicina, astronomia, engenharia, arquitetura, matemática e à navegação, quem
negaria que o negro há séculos atrás, muito antes de Cristo foi detentor de tão
amplo conhecimento?
E acerca das contribuições, Machado (2016) dá
visibilidade aos conhecimentos produzidos em África em determinados campos da
ciência como, por exemplo, na astronomia:
“A astronomia egípcia começa nos tempos pré-históricos. Um dos mais antigos dispositivos arqueoastronômicos conhecidos no mundo está localizado na bacia de Nabta Playa no Egito datando de 5 mil anos a.C. Cerca de 1000 anos mais velho do que Stonehenge no Reino Unido”. [Machado, 2016 p. 15]
E tomando as abordagens de Cunha (2005), o
autor enfoca a significante contribuição dos afro-brasileiros. Traz em sua obra
a contribuição do engenheiro André Rebouças, para à cidade do Rio de Janeiro,
onde implantou um sistema de abastecimento de água, que culminou em sua forte
influência como engenheiro hidráulico da época, no Brasil Império. E ainda, em
uma abordagem para além de um único colaborador no espaço científico destaca também
o médico baiano Juliano Moreira, que com suas pesquisas à medicina brasileira,
ganhou prestígio internacional, e não apenas isso, esforçadamente realizou
trabalhos importantíssimos em instituições de saúde no Brasil e também no
ensino na Faculdade de Medicina, mais especialmente no tratamento psiquiátrico.
Teodoro Sampaio não
foi esquecido por Cunha (2005). Afro-brasileiro que notavelmente como
engenheiro civil, reconstruiu o velho prédio da Faculdade de Medicina em
Salvador e a sua contribuição na área política, na publicação de obras e para
com o universo educacional superior, sendo nomeado diretor da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo.
Ademais, não seguindo
uma cronologia ou apenas um lugar específico para estudo das contribuições,
podemos perceber que o negro não foi um inapto e inerte. No caso de África não houve
inquietamento pela busca do conhecimento, pelo qual a contribuição foi
efetivada na promoção das ciências, desde a medicina à navegação. E no Brasil o
afrodescendente não se absteve de promover mudanças sociais, como nos casos
citados, em que feitos influenciaram na vida de inúmeras pessoas. Isso rompe
paradigmas acerca da inércia; da não contribuição e da invisibilidade ao qual
foi submetido, é uma quebra do processo de omissão e da invisibilidade de tão
vasta contribuição. E quanto a isso, Lima (2018) destaca a omissão da verdade
nos fatos históricos que de geração para geração se é perpassado:
“[...] a história transmitida de geração em geração elegeu as versões que sempre colocaram os brancos e homens como destaque, deixando de lado os inúmeros personagens negros que influenciaram e determinaram fatos importantes na história brasileira; como Zumbi dos Palmares, que comandou o maior quilombo brasileiro, localizado no atual estado de Alagoas; como José do Patrocínio, um jornalista e escritor abolicionista; Luiza Mahin, líder da Revolta dos Malês; Dandara, a guerreira esposa de Zumbi; Abdias do Nascimento, marcante intelectual negro brasileiro; e muitos outros”. [Lima, 2018, p. 7-8]
Sendo assim, ser
inapto e inerte mediante a tantas contribuições são conceitos infelizes, é
possível perceber que estão sendo empregados erroneamente no que se reproduz
através de um racismo que se caracteriza pela sua desumanidade. À História não
cabe uma omissão, cabe sim a história que dá visibilidade. E os invisíveis
através do processo de ensino passam a ganhar notoriedade, que vem sendo
estabelecida mediante a quebra dos estereótipos, abandono de prés-conceitos, e
interferência ao racismo epistêmico, como um ato de propagação de algo que
propositalmente não se foi divulgado, as contribuições do negro.
Referências
Andrisson Ferreira da
Silva. Graduando no curso de Licenciatura em História , bolsista pesquisador do
Observatório de Discriminação Racial, integrante do Grupo de Pesquisa "O
processo de construção do docente em história” e do Núcleo de Estudos
Afro-brasileiros e indígenas da Universidade Federal do Acre.
Cláudia Marques de
Oliveira. Mestra em Educação, professora substituta, participante do
Grupo de Pesquisa “O processo de construção do docente em história”, do
“Observatório da Discriminação Racial e do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e
indígenas da Universidade Federal do Acre”.
BRASIL. Presidência da
República. Lei n. 10.639, de 9 de
janeiro de 2003. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Brasília, 2003. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>.
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Acesso em: 27 de fev. 2019.
A Lei 10.639/03 propiciou a possibilidade de combater o processo de racismo, eminente e constante na sociedade brasileira. É fruto de equívoco do Estado – historicamente – que impregnou na população ao longo de história brasílica os traços racistas e negociantes. Percebendo as mudanças políticas decorrentes, velhos fantasmas silenciosos retornaram. Discursos dúbios estão presentes, como a negação de fatos históricos e a pejoração a comunidade negra. Assim quais os desafios dos professores num período de negação destes valores culturais dos povos afrodescendentes e da própria histórica de África? Existe riscos de alteração da Lei, mediante a conjuntura política atual?
ResponderExcluirPergunta de extrema relevância a sua. Respondendo-te pois, digo que o desafio pauta-se especificamente na implementação da lei e na sua aplicabilidade por parte de muitos docentes, que infelizmente não compreendem a interdisciplinaridade da lei ou simplesmente se abstém dela, fazendo então, "pouco caso" mediante a uma temática tão relevante. E, aos que já a aplicam, o desafio é intensificar a luta e reforçar a africanidade na construção social mundial e inclusive brasileira. Sendo assim, temos um desafio no qual é o de reconhecer que a lei 19.639/2003 não está reservada somente as áreas de Educação Artística, Literatura e História Brasileira, ela é interdisciplinar. Portanto, o desafio já começa com o próprio professor, para que entenda a obrigatoriedade da lei e aplique-a. Ademais, sobre os riscos, devemos entender que a lei supracitada vem de um longo processo de lutas históricas por parte do Movimento Negro e sua criação foi fomentada, inclusive, pela Conferência de Durban, uma conferência mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, sendo realizada em setembro de 2001, com presença de 173 países na África do Sul. Contudo, respondendo a outra questão, tendo em vista os desmontes que sofrem o sistema educacional brasileiro riscos não deixam de ser eminentes, mas é importante ressaltar que, provocar desconstrução à conquistas históricas é incitar o desequilíbrio para qualquer governo.
ExcluirAndrisson Ferreira da Silva
A Lei 10.639/03 propiciou a possibilidade de combater o processo de racismo, eminente e constante na sociedade brasileira. É fruto de equívoco do Estado – historicamente – que impregnou na população ao longo de história brasílica os traços racistas e negociantes. Percebendo as mudanças políticas decorrentes, velhos fantasmas silenciosos retornaram. Discursos dúbios estão presentes, como a negação de fatos históricos e a pejoração a comunidade negra. Assim quais os desafios dos professores num período de negação destes valores culturais dos povos afrodescendentes e da própria histórica de África? Existe riscos de alteração da Lei, mediante a conjuntura política atual?
ResponderExcluirJadson da Silva Bernardo
Como inserir no meio escolar (sala de aula) conteúdos que tratam da ancestralidade AFRO em meio a hostilidade política e religiosa da época, levando em consideração as lutas constantes na formação da sociedade como consciência da pluralidade cultural?
ResponderExcluirJefferson Gomes da Silva
A melhor maneira é o docente pesquisar e buscar métodos específicos para que suas referidas turmas se adaptem as informações. Estar pautado na lei é essencial, uma vez que, compreender que intolerância religiosa é crime quando for abordar na sala de aula sobre as religiões de matrizes africanas, quando houver repúdio, que racismo é crime, quando se ensina com um recorte étnico-racial que trata sobre negros e também houver repúdio. Logo, o professor precisa de ter a consciência de que está embasado, e quando houver resistência o professor também será resistência.
ExcluirAndrisson Ferreira da Silva.
É possível construir uma avaliação concisa e precisa sobre os avanços alcançados a partir da implementação da Lei 10.639? Em relação aos objetivos apresentados a partir da aprovação de tal Lei, podemos descrever o que os profissionais da educação deixaram de fazer e por quais motivos, passados mais de 10 anos a mesma não foi materializada como os Movimentos Sociais desavam?
ResponderExcluirkleyton Gualter de Oliveira Silva
Tomando uma avaliação proposta em análise de avanços, podemos destacar que analisar isso nos leva a perceber que o espaço educacional se tornou um lugar mais respeitoso, uma vez que, a lei propiciou uma diversidade cultural. África passou a ser parte de um currículo antes amplamente eurocêntrico, quando falar desse continente não somava importância aos saberes da América. A consciência que a lei proporciona a muitos alunos de que o negro sofreu grandemente com o processo de escravidão, também pode ser considerada como um avanço, pois pode se ter certeza de que essas calamidades refletem até hoje em como está pautada a sociedade brasileira, podendo inclusive compreender a lei de cotas - ISSO É UM AVANÇO IMPORTANTE -.Podemos destacar também, o número crescente de pessoas no Brasil que passaram a se autoafirmar como negros e negras, um pertencimento de si crescente, quando analisamos os dados do IBGE, vendo que maioritariamente havia mais brancos antes dos anos 2000 e depois de novas pesquisas a população negra cresce extraordinariamente, o que que podemos entender que o brasileiro passou a se entender de acordo com sua cor. Todavia, ainda há muito de se avançar, seguramente, muitos professores acabam não tendo a qualificação precisa para aplicar a lei, as universidades ainda não abordam a lei de forma ampla. Portanto, a não aplicação grandemente se dá por um despreparo. De fato, a mesma não alcançou sua plenitude e seus resultados não são ainda como os movimentos sociais desejaram, pois ainda se abstém muito de África, e as formações são mínimas. Contudo, a luta continua, busquemos significativamente cumprir a intencionalidade da lei, que é uma sociedade justa e igualitária, sem acepção por etnias.
ExcluirAndrisson Ferreira da Silva
Acho de suma importância essa lei, porém, logo que foi implantada havia apoio didático e financeiro do governo do Estado de Mato Grosso, a exemplo. Neste sentido, o plano pedagógico escolar tem em sua proposta metodologias aplicadas as competências de formação crítica e da pluralidade cultural, na teoria. Na prática são poucas as escolas que produzem competências dentro das escolas públicas. Qual posição o professor de história deve tomar diante desses fatores?
ResponderExcluirAtt.:
Lidiane Álvares Mendes
A teoria como tu elencas, já é um passo crucial para um desenrolar dos ensinamentos e também é o que te ampara além da lei, é claro. Mas, a prática como sabemos é o que efetiva a teoria, teorias que infelizmente, grandemente só enfeitam os planos de ensino (sendo assim, como a lei é obrigatória muitas instituições procuram mostrar que isso é plano educacional de alguma forma), que é o que etá explícito em teu comentário. Entendo tua questão no que se efetiva um desamparo ao professor, certo? Logo, o foco é acreditar no que se aprendeu, aplicar a lei na sala de aula, ainda que sem apoio (por mais que seja difícil). A recompensa se dará em um aprendizado humanizado e a humanização ganha notoriedade fiel mediante a um desapoio, seja por qualquer sistema de gestão.
ExcluirAndrisson Ferreira da Silva
Diante de seu escrito, e com a minha trajetória acadêmica no Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros da UEM (vejo que você também é pesquisador de um NEAB), compreendo a Lei 10.639/03 como uma política pública que contribui diretamente para o enfrentamento do racismo epistemológico e cultural em sala de aula, porém tal política deve se propagar nas universidades e instituições de ensino superior também. Como poderíamos inseri-la no espaço acadêmico, sendo que não está prevista sua obrigatoriedade no mesmo? Como formar professores comprometidos com uma educação para as relações étnico-raciais e com o antirracismo na escola, se o racismo epistemológico e cultural também está enraizado nas práticas e teorias acadêmicas?
ResponderExcluirEloá Lamin da Gama.
Maravilha saber que também fazes parte de um Neab. Tomando tua perspectiva, verdadeiramente as instituições de ensino superior muito deixam a desejar quanto a aplicabilidade da lei 10.639/2003. A como aplicar, posso citar como exemplo o primeiro Novembro Negro promovido pelo recém criado Neab, na Universidade Federal do Acre, que até então chamado apenas de Observatório de Discriminação Racial. Esse evento foi articulado institucionalmente com o restaurante universitário, uma semana sendo um cardápio de comidas típicas africanas, houve também exposição de pesquisas fomentadas pelo núcleo, uma cessão de cinema com o filme Pantera Negra, e material digital compartilhado para alunos da instituição, isso para te expor uma forma de aplicação da lei. Contudo, infelizmente o artigo 26 da lei não ampara o ensino superior, no entanto, a iniciativa é que ganhemos voz por meio de nossas ações para conquistarmos uma amplitude da lei. E, também respondendo tua indagação acerca da formação docente para a educação das relações étnico-raciais quando se há uma educação pautada no racismo epistemológico e cultural, a ação principal para irmos contra isso é a "descolonialidade do ser", o eurocentrismo há de ser reduzido também quando houver a "descolonialidade do saber", e logicamente, a grade de cursos nas instituições são ainda muito eurocêntricas, no entanto, prossigamos nas reivindicações por ensinos que contemplem nossa realidade.
ExcluirAndrisson Ferreira da Silva
Boa noite!
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de parabenizar o autor pelo texto!
Seguidamente gostaria de perguntar o seguinte:
Considerando que a história da África, dos africanos e dos afro-brasileiros é muito pertinente para ser contemplada no currículo educacional brasileiro, proporcionando aos estudantes o conhecimento desses povos como importantes sujeitos históricos. Nos dias de hoje, mesmo após todos esses anos em que se tornou obrigatório aos professores da rede de ensino pública e privada o ensino de conhecimentos sobre a história da África e dos afro-brasileiros, ainda há dificuldades para que se contemple esse ensino? Se sim, você poderia elencar algumas dessas dificuldades?
Adriana Ribeiro de Araujo.
Boa noite Adriana!
ResponderExcluirEssa é uma pergunta muito recorrente!
Podemos questionar o fato de que já fazem 16 anos da lei 10.639/03, porém é importante lembrar que essa nossa educação, em que todos concordamos que necessita de mudanças urgentes, foi estruturada e é reproduzida a mais de 500 anos. Neste sentido 16 anos é muito pouco tempo, certo? Ainda há muita falta de interesse e desconhecimento da importância e necessidade. Muitas vezes até se entende e conhece, mas não sabe por falta de referências. Não tivemos esse ensino em nossa época de escolarização. A tendência dos professores é reproduzir suas referências, mesmo de quando alunos. Porém há muito sendo feito, recriado e pesquisado no sentido da implementação da lei. Há muitos materiais dentro das escolas e disponíveis na internet. Percebo uma dificuldade de se modificar ou adaptar e atualizar, o que trazem os conteúdos didáticos. É necessário se debruçar, estudar, pesquisar e criar formas de inserção da temática junto aos conteúdos vigentes. Esse é o caminho nem sempre escolhido por alguns professores.
Cláudia Marques de Oliveira