O
MANUAL DIDÁTICO ‘NOVA HISTÓRIA CRÍTICA’ E A HISTÓRIA DA ÁFRICA: UMA ABORDAGEM
DESCRITIVA
É
importante balizar a discussão proposta acerca do livro didático, de forma a
apontar de maneira geral, qual a nossa postura em relação a esse recurso, pois
será a partir deste lugar que falaremos.
Acreditamos
que se a disciplina de História como um todo for ensinada de maneira atrativa e
na medida do possível fora do campo de batalha das narrativas e do interesse de
grupos que definem os conteúdos pertencentes ao currículo escolar, poderá
propiciar a formação de jovens cidadãos mais conscientes de sua realidade.
Também concordamos com a indicação de Rüsen (2010) de que o livro didático
ocupa destaque como uma ferramenta essencial para e no ensino de História, daí a
importância de conhecê-lo para além de sua apresentação, mas desde o seu
processo de organização, sistematização e distribuição.
É
inegável a disputa que ocorre no mercado do livro didático, pois este é um
negócio altamente lucrativo e que tem por pano de fundo interesses de variados
grupos que não necessariamente estão preocupados com a maneira como a história
será disposta neste recurso didático. Chamamos a atenção para esta variável
como forma de reforçar a importância da postura do professor - e de sua
constante formação- frente aos materiais que estão disponíveis para ele nas
escolas de modo a alertar para a necessidade de inovações teórico-metodológicas
para melhor contribuir com a aprendizagem dos alunos.
N’outro
paralelo temos materiais que apresentam uma estrutura cada vez mais adequada para
um ensino de História pela História - aqui numa perspectiva de didatização
própria uma vez que valorizam em sua estrutura elementos centrais, para ao
menos, um início no processo de aprendizagem histórica.
Concordamos
com o estudo de Susana Bernardo (2009), no qual a autora diz que, “o modo em
que o professor utiliza o livro didático e ensina a História está associado aos
seus saberes e a sua experiência”, daí a importância de manter esse educador
preparado para atender as necessidades existentes no ambiente escolar - em se
tratando do livro didático - em vista de conseguir transitar via seus saberes
em momentos que o material de apoio não atende a demanda do conteúdo abordado.
Acreditamos
que essa visão ampliada dos livros didáticos em face de sua potencialidade ou
elementos por eles negligenciados, deve ser colocada em pauta na formação
acadêmica de maneira mais acentuada, daí a importância, por exemplo, dos
Laboratórios de ensino de História nas IES - espaço no qual o acervo de
materiais didáticos podem possibilitar uma imersão dos licenciandos e com isso
sua melhor formação.
Há
uma necessidade cada vez mais urgente em aproximar as discussões da academia
com o que se ensina nas escolas, de maneira que se estendam para os livros
didáticos esses debates que reforçam o diálogo entre passado e presente que são
inerentes a reflexão histórica e que ao que parece baseado ainda em Bernardo (2009)
não estão presentes na compreensão dos alunos. Por isso espaços na universidade
que possibilitem esse intercâmbio e também para além da instituição tendem a
favorecer o processo formativo de todos os envolvidos, graduandos e professores
e/ou alunos da rede básica de ensino.
Há
muito ainda para se discutir acerca dessas particularidades do ensino e que
aqui com certeza mal são postas para análise. Portanto passaremos agora, para a
observação do manual didático selecionado para o estudo. Nele buscamos a partir
da temática do ensino de História da África conhecer a construção do manual
como um todo de modo que pudéssemos apresentar esse “campo de disputa” que
antecipa aspectos curriculares, mas que de modo algum podem ser ignorados.
Optamos
pelo livro de volume único destinado aos alunos do Ensino Médio ‘Nova História
Crítica’ do autor Mario Furley Schmidt do ano de 2009.
Em
uma breve pesquisa acerca desse material foi possível verificar que mais de 20
milhões de alunos já tiveram acesso a esse livro que desde sua formulação. Sua
circulação está profundamente marcada por uma polêmica criada inicialmente por
um diretor de uma rede de telecomunicações aberta de grande alcance nacional e
de um jornal impresso pertencente ao grupo desta mesma emissora e também, por
outros atores do cenário educacional, conforme uma breve pesquisa na WEB 2.0
nos permitiu observar.
Mario
Schmidt foi fortemente acusado de veicular propaganda ideológica do Comunismo
em seu material, e na esteira dessa polêmica, o Ministério da Educação também
sofreu severos ataques por ser o órgão responsável pela aquisição e
distribuição do manual didático.
O
que nos chama atenção em relação à polêmica em torno desse livro é que existem
informações advindas de vários professores apontando que há em determinados
momentos uma falta de rigor metodológico, erros conceituais no trabalho de
Schmidt (2009), mas os mesmos apontam para a questão de que não há um livro
ideal, livre de ideologia, o que nos remete a apontar que ao fim, o que de fato
ocorre nesse contexto é um embate em torno de interesses divergentes no qual de
um lado está o manual didático com as características inerentes ao que o
concebeu, e de outro um representante de um grupo que não concorda com sua
postura.
Cabe
a nós analisarmos os conteúdos sem deixar de lado essa percepção de que muito
do que se está posto - ou praticamente tudo – refere-se a um determinado
interesse e se há interesse de uma parte, não necessariamente atenderá todas as
outras, mas não cabe aqui neste momento essa discussão.
Análise geral do manual didático
‘Nova História Crítica’
Com
base nos esclarecimentos expostos acima sobre o manual didático analisado,
passamos então a apresentar como o continente está retratado neste material,
primeiramente apresentando em tópicos os capítulos que o mencionam sob algum
enfoque - de maneira expositiva – e na sequência a apresentação de um capítulo
específico sobre o que o autor chama de África antiga.
Capítulo
1: As grandes origens. Nesta parte
inicial do livro um tópico é dedicado ao EGITO, no qual o autor aponta que está
situado no Norte da África e chama atenção para uma imagem de Tutancâmon na
qual ele escreve: “note as feições de negro”.
Capítulo
4: O mundo árabe. Na página 69 o
autor traz um mapa com marcações da influência do Islamismo na atualidade, no
qual a África está evidenciada.
Capítulo
5: A África Antiga. É o único
capítulo destinado à África especificamente. (Trataremos dele na sequência).
Capítulo
16: Colonização das Américas. Apresenta
em figura o Comércio triangular e chama à atenção a fala referente a Treze
colônias inglesas: “a riqueza dos latifundiários do sul construída sobre as
costas dos escravos africanos”.
Capítulo
17: Escravismo colonial. Traz uma
abordagem geral sobre a escravidão fazendo referências ao comércio de negros, a
igreja e a escravidão, a rebeldia dos escravos. Chama atenção um pequeno Box no
qual ele apresenta Jinga Mbande – a grande Ngola - como “A rainha que disse
não”, referindo-se a essa mulher como uma das maiores personalidades feminina
de toda a história da humanidade, por seu vigor e defesa a seu povo. O
território que ela tanto defendeu no século XV recebeu o nome em sua alusão:
Angola.
Capítulo
18: Civilização do açúcar. Apresenta
o escravo como os pés e as mãos do senhor de engenho. Chamou a atenção uma
imagem do embaixador do Congo na qual o autor destaca a participação das elites
africanas no comércio de escravos.
Capítulo
23: Século de ouro. Neste capítulo o
autor apresenta um Box chamado Brasil é África destacando que não se pode
estudar a história do Brasil separadamente das colônias portuguesas da África.
Capítulo
36: O imperialismo. Apresenta a
conferência de Berlim na qual há a partilha da África entre as nações
europeias.
Capítulo
38: Abolição. Mostra o processo de
abolição e suas facetas, como a relação com a igreja, com as leis, com aspectos
de: liberdade sim, mas trabalho assalariado não. O autor satiriza algumas
passagens do capítulo, ao que se percebe para chamar a atenção para a
efetividade dessa política abolicionista.
Capítulo
49: África e Ásia após a Segunda Guerra.
O autor apresenta de maneira geral questões referentes ao fim do Império
português na África, fala do Apartheid em
um tópico específico sobre a África do Sul, bem como sobre a descolonização
africana como um todo.
Análise do capítulo 5 – a África
Antiga
Na
parte introdutória deste capítulo o autor traz uma fala sinalizando para a
importância da África como pode se destacar:
“Chamamos a África Antiga ao período histórico que vai até o final do século XIX, quando os países imperialistas europeus passaram a colonizar as regiões africanas. A África nunca esteve isolada do resto da humanidade, é claro. Basta lembrar o contato de egípcios antigos com os povos europeus no litoral do mediterrâneo. Ao longo dos séculos o comércio e as viagens uniram as sociedades africanas aos árabes, indianos e chineses.” [SCHMIDT, 2009, p.72]
Assim,
é observável que o livro tem toda uma preocupação em mostrar que o Continente
Africano não está isolado, e que sempre esteve ligado aos demais continentes e
exerceu influências sobre eles.
Com
essa passagem podemos fazer uma referência ao texto de Serrano e Waldman (2007)
no qual está exposta a importância de estudar o continente de modo que não se
apresente de forma isolada, pelo contrário, a abordagem disciplina deve estar
voltada para uma exposição interligada entre as demais disciplinas em um
diálogo que gere uma reflexão mais profunda sobre a África que é ainda hoje tão
fortemente estereotipada.
É
importante apresentar que a África além de berço da civilização é um continente
onde há uma diversidade muito grande de costumes e características
socioespaciais. Neste sentido Schmidt (2009) fala que o que ele chama de África
no livro “é um complexo de
milhares de culturas diferentes”.
O
livro mostra que o Continente Africano não é por igual de Norte a Sul. Ele
apresenta culturas diferentes, povos diferentes, religiões diferentes. Portanto,
não devemos ver a África apenas a partir de uma abordagem minimalista, ou de
maneira geral, pois erroneamente é habitual a confusão com o termo África
atribuindo a este um espaço comum e único enquanto esta representa uma
heterogeneidade ainda pouco conhecida e assimilada.
Para
dar sequência com a apresentação do capítulo, é importante apontar a maneira
como ele está dividido, portanto passemos a descrição:
Os mais antigos
O
tópico apresenta as características gerais do continente no que se refere ao
clima, à constituição do deserto do Saara e inicia apontamentos sobre os reinos
ao dialogar com informações em escritos dos gregos, bem como, as mudanças mais
importantes ao decorrer dos milênios.
Para
esse contexto a compreensão das bacias hidrográficas apresentadas por Analúcia
Danilevicz Pereira na obra História da África e dos africanos (2013), bem como
outras abordagens do mesmo livro é necessária, pois sinalizam a mobilidade de
caravanas e com isso possibilita-nos a visualização dos processos migratórios
decorrentes dessa prática.
É
evidenciada a imagem de um escudo - no material didático - que representa os
grandes guerreiros e uma obra arquitetônica demonstrando as influências
egípcias na Núbia reforçando a conexão existente entre os povos. Advogamos aqui,
pela importância das imagens em meio aos textos que remontam um passado mais
distante uma vez que contribuem para uma melhor assimilação do conteúdo pelo
aluno.
Grandes reinos e
comércios
Neste
tópico, o autor apresenta considerações sobre os reinos da África e dos povos
que os habitavam. Os rios são citados como elementos essenciais de
subsistência. É de fácil percepção a ênfase dada no Nilo, Níger, Congo e
Zambeze como fonte de irrigação para as lavouras, pesca e navegação.
Destacam-se
ainda cidades importantes para a comercialização como Djena no Reino de Mali e
depois o Reino de Songhai. Tombuctu – de Mali - é apresentada como uma cidade
de grande importância para o comércio entre os reinos africanos e onde é
presente a influência islâmica nos centros de estudos superiores.
O
autor apresenta vários povos os Hauças na Nigéria, os Fulanis, o Benim o povo
Edo, os Igbo, o Reino Adomei e do Kongo, entre outros, para representar toda
essa variedade existente na África. Destacam-se os Iorubás, africanos que
produziam esculturas que impressionavam os europeus. Suas esculturas eram
comparadas as gregas e romanas, no entanto, o autor fala que essa com
comparação traziam consigo um misto de preconceito e admiração.
O
presente capítulo apresenta também, um Box no qual se discute “A Escravidão
desde a África” trazendo a seguinte exposição do historiador norte-americano Paul E.
Lovejoy, especialista em história da escravidão, que diz que, “a África
esteve intimamente ligada a esta história, tanto como fonte principal de
escravo para antigas civilizações, o mundo islâmico, a Índia e as Américas,
quanto como uma das principais regiões onde a escravidão era comum”.
É
importante ressaltar, no entanto, que o modelo de escravismo que se tem na África não pode ser aplicado em cada
sociedade da mesma maneira. Além disso, a escravidão moderna europeia diverge
da escravidão antiga - que tinha de maneira geral um status de servidão – e o
livro proporciona uma breve análise partindo desse ponto de observação.
Pode-se perceber ao longo dos capítulos um
esforço em apresentar uma visão panorâmica da História da África, elemento
importante a ser considerado nesta análise devido a urgência da abordagem deste
tema em sala de aula.
Considerações
Em linhas gerais, para além da visão de
história defendida pelo autor Mário Schmidt – a do Materialismo Histórico e Dialético
– percebemos o esforço do autor em apresentar a África de maneira a integrá-la ao
sistema da história mundial, mesmo dando enfoque muitas vezes ao sistema de
dominação ao qual foi submetida. Pode-se perceber também que o autor volta-se
para o interior do continente para apontar suas particularidades e valores que
são pouco explorados em nível de ensino seja ele no ciclo básico ou até mesmo
acadêmico, elemento este que deve ser valorizado dentro de sua proposta de
apresentação do conteúdo.
Por fim, mas a guisa de conclusão: se a Lei
10.369/2003 torna obrigatória a inserção de uma abordagem da história
afro-brasileira no ensino, destacamos que neste manual ela ainda não se
apresenta com uma abordagem equivalente sobre essa realidade de aproximação e
imbricação das culturas, mas nota-se um esforço - ao menos inicial - em propor
essa intersecção.
Referências
Adaiane Giovanni, mestra em Sociedade e
Desenvolvimento pela Universidade Estadual do Paraná - campus de Campo Mourão.
Professora colaboradora na mesma instituição e das séries finais do Ensino
Fundamental na rede privada de ensino.
Daniela Maria do Nascimento Hypolyti é
mestranda do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Desenvolvimento da
Universidade Estadual do Paraná – campus de Campo Mourão. Bolsista pela
Fundação Araucária.
BERNARDO,
Susana Barbosa Ribeiro. O ensino de história nos primeiros anos do ensino
fundamental: o uso de fontes.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em
História Social do Centro de Letras e Ciências da Universidade Estadual de
Londrina – PR. Londrina, 2009.
RÜSEN,
Jörn. O livro didático ideal. In SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel;
MARTINS, Estevão de Rezende (Orgs). Jörn Rüsen e o ensino de História. Curitiba:
Ed. UFPR, 2010.
SCHMIDT,
Mario Furley. Nova história crítica: ensino médio. Volume único. 1.ed. São
Paulo: Nova Geração, 2005 (PNLEM 2009/2010/2011)
SERRANO, Carlos; WALDMAN, Maurício. Memória
D’África: a temática africana em sala de aula. São Paulo: Cortez, 2007.
VISENTINI, Paulo Fagundes; RIBEIRO, Luiz
Dario Teixeira; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História da África e dos
africanos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
Sobre as particularidades do ensino da História da África em relação a construção e utilização do manual didático em sala de aula, quais as maiores dificuldades encontradas?
ResponderExcluirAdriana Ribeiro de Araujo.
Prezada Adriana,
ExcluirObrigada por prestigiar nosso trabalho.
Gostaríamos de esclarecer que não fizemos uma análise junto aos professores que nos permita dar respostas mais acertadas ao seu questionamento. O nosso foco foi a análise do material. Porém, mesmo que brevemente podemos te dizer que:
a) defendemos que o processo de construção dos materiais deve ser acompanhado por especialistas da área o que permitirá cada vez mais assertividade.
b) já a utilização passa por uma boa formação desde o nível acadêmico para a temática em questão. Conhecer bem a História da África e vivenciar isso na vida acadêmica pode contribuir e muito para uma transposição adequada em sala de aula.
Gratas,
Professoras: Adaiane Giovanni e Daniela Maria do Nascimento Hypolyti
Na percepção das autoras seria necessário um grupo de educadores especializados (ligados ao MEC) para verificar a legitimidade do material didático de História e dos conteúdos sobre África?
ResponderExcluirOs cursos de licenciatura em História negligenciam de alguma forma, durante a formação, disciplinas que preparem os futuros professores para o ensino de conteúdos e uso de materiais didáticos sobre África?
Obrigada =D
Elainne Cristina da Silva Mesquita
Olá Elainne,
ExcluirDuas temáticas "quentes" você trouxe para a nossa página aqui no evento. Somos gratas pela contribuição.
-
Buscaremos ser breves sem, no entanto, deixar de atender sua demanda.
1) O ideal seria que as áreas tivessem mais profissionais envolvidos em todos os processos que as envolve (com isso queremos dizer que a carência está para além do Ensino de História da África. Está no âmbito da História mesmo). Mas sim, ter especialistas faria muita diferença.
2) Não sei até que ponto podemos falar em negligência das universidades. Acredito mais no engessamento no qual a tradição clássica nos envolve. Vez ou outra, despontam disciplinas eletivas (quando profissionais habilitados oferecem - e são poucos). Outras vezes na construção da grade. Tudo ainda muito timidamente.
Mas devemos perceber esforços em projetos, intervenções, discussões. Devemos nós como professoras e professores buscar pautar nossas discussões também nessa direção. É um processo e devemos respeitar cada fase, mas sem estagnar!
Obrigada.
Professoras Adaiane Giovanni e Daniela Maria
Gostaria de saber se para as autoras existem eficientes e adequadas para um curto prazo de sanar as falhas na transposição didática relacionadas ao ensino sobre a história da África. Digo, vocês percebem meios de melhorar a chegada da produção acadêmica sobre o assunto, salvas as devidas adequações, para o ensino básico? percebo ainda muitos professores com muitos anos de sala de aula que não tiveram oportunidade ou desejo de realizar uma atualização sobre o tema, alguns mesmo que desconhecem os detalhes da lei 10.639. Apesar dos inegáveis avanços, penso que ainda há bastante desinformação sobre as estratégias de ensino para esse conteúdo.
ResponderExcluirObrigada.
Kenia Gusmão Medeiros
Kenia.
ResponderExcluirPrimeiramente agradecemos pelo comentário.
Os livros didáticos têm passado por significativas reformulações ao longo dos anos. Inúmeras questões que não são somente de cunho educacional estão de uma forma ou de outra, presente nessas reformulações e terminam por interferir na produção desse material. De todo modo, apesar do avanço pelos quais passou o livro didático, ele ainda continua sendo um material que possui muitas fragilidades e que tem muito que ser melhorado em todos os aspectos, principalmente no que diz respeito à maneira como a História da África é apresentada e abordada nos livros didáticos de História. Ao olhar os livros didáticos que estão sendo utilizados nas escolas publicas brasileira, é possível observar a presença ainda tímida da História da África nesses livros.
A lei 10.639 é um grande passo, porém ela precisa de fato ser efetivada nos conteúdos dos livros, assim como também precisa estar presente na formação dos professores. A mudança precisa acontecer na base e no topo, ou seja, acredito que políticas como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) devem incentivar a efetivação dos pontos estabelecidos por essa lei na produção do livro didático de história, e que ao mesmo tempo, professores possam ter de fato acesso à formação sobre temáticas como essa, que por inúmeras vezes passa por despercebida no ensino de história. Mudanças são necessárias para que a África não seja relacionada apenas com a ideia de escravidão, afinal a sua história não se resume somente a esse recorte. Porém basta olharmos para a trajetória educacional para percebemos como as mudanças na educação independentemente da temática demoram para acontecer. Por isso, os debates e reflexões precisam ser constantes, para que a atenção recaia sobre questões como essas e para que a produção acadêmica seja transposta nesse livros.
Adaiane Giovanni e Daniela Maria do Nascimento Hypolyti
Prezadas autoras, muito bom aprender com seu texto. Parabéns. Acredito que um dos grandes problemas do ensino de História da África, passem por uma falta de disponibilidade de formação continuada para que o docente tenha referências no preparo das aulas. Enfim, existe pouca bibliografia traduzida e, mesmo, não vejo oferta de cursos de formação ou especialização em História da África como seria o ideal. Como romper com esse cenário?
ResponderExcluirObrigada Cleverton,
ExcluirSeremos diretas nesta resposta, expressando de fato o que visualizamos e já repetindo o que apontamos em algumas respostas: a universidade é o caminho para o inicin dessa virada. Pois por meio da circulação desse tema naquele espaço, teremos professores e professoras mais preparados para ensinar sobre História da África. Assunto que concordamos, é muito importante.
Com estima, sigamos acreditando e lutando por um ensino de História de qualidade.
Professoras, Adaiane Giovanni e Daniela Maria
Prezadas, parabéns pelo texto, a temática é de extrema importância. A questão da história da África nos livros didáticos infelizmente ao meu ver ainda deixa a desejar nos manuais. A abordagem que os livros didáticos realizam em muitos momentos acabam caindo nos velhos estereótipos a respeito do continente da multiplicidade cultural. Gostaria de saber como vocês compreendem este cenário? visto que já fazem 16 anos da publicação da lei 10639.
ResponderExcluiratt
Edson Willian da Costa
Olá Edson,
ExcluirQueremos agradecer sua presença nesta página do nosso trabalho.
Sim. Ainda precisamos avançar muito nas construções dos materiais, embora já tenham melhorado consideravelmente nos últimos anos. Quero porém me atentar a sua indagação acerca dos estereótipos e do cenário no contexto de 16 anos da Lei 10639.
-
Antes mesmo do ensino básico a construção adequada sobre a História da África (H.A) passa necessariamente ao meu ver pela formação acadêmica. Precisamos internalizar essa necessidade enquanto professores universitários e transversalmente tratar sobre H.A onde a disciplina não está presente. Acredito que este é o caminho, pois se formarmos para essa consciência, mesmo que os livros didáticos apresentem suas limitações, poderemos ter professores a ensinar com ao menos certo domínio esse conteúdo de tamanha importância. Claro, não podemos esquecer também a necessidade de conhecerem a Lei.
Sigamos firmes e confiantes.
Professoras, Adaiane Giovanni e Daniela Maria do Nascimento Hypolyti
No seu ponto de vista, ao fazer essa pesquisa, a maior dificuldade que se tem em colocar nos livros didáticos uma história da África em suas particularidades, para que se tenha no ensino básico um maior entendimento sobre o continente por parte dos estudantes, e qual a metodologia poderia ser empregada para que o saber acadêmico chegasse na sala de aula?
ResponderExcluirNatália Alves de Almeida
Natália.
ResponderExcluirAcredito que a maior dificuldade de abordar as particularidades da história da África no livro didático esteja na grande complexidade que é o próprio livro. Ao mesmo tempo em que ele precisa atender diversos interesses, ele também é um material que não tem a obrigação de dar conta das peculiaridades de qualquer tema que seja. O livro didático não é um material pronto e acabado. O livro apesar de assumir outras funções no ensino de História no Brasil - e por vezes ser o principal meio do ensinar e aprender História -, ele é apenas um instrumento de apoio pedagógico.
Acredito que para trabalhar as particularidades da história da África, assim como também outras temáticas, os livros didáticos precisam dar suporte, mas os professores precisam também de uma formação continuada. Na atualidade os livros didáticos ainda dão pouco suporte no diz respeito a determinados temas, e a formação de muitos professores termina em muito dos casos sendo o próprio livro didático e as suas orientações.
A respeito do segundo ponto, acredito ser um pouco complexo, e talvez inadequado pontuar uma metodologia que possa ser empregada para que o saber acadêmico da história da África chegue à sala de aula. A sala de aula e a relação do professor com seus alunos é algo muito particular e ao mesmo tempo dinâmico. No entanto, algo me chama muito a atenção, não é em si a metodologia, mas a reflexão em torno da questão da aproximação entre o saber produzido nas academias e o saber escolar. Existem muitos debates em torno dessa questão, mas acredito que precisamos avançar e muito ainda nesse ponto. O conhecimento produzido nas academias parece demorar muito para chegar à sala de aula – isso ainda quando chega. Tenho pensado e venho pesquisando atualmente sobre História Pública, e tenho visto nela uma possibilidade de aproximação do conhecimento acadêmico do conhecimento escolar, a partir da ampliação das audiências do conhecimento científico.
Adaiane Giovanni e Daniela Maria do Nascimento Hypolyti