REFLEXÕES
ACERCA DO ANTIRRACISMO E REPRESENTATIVIDADE NEGRA NOS LIVROS DIDÁTICOS A PARTIR
DA LEI 10.639/03
Introdução
O
presente escrito tem o objetivo de propor uma discussão introdutória acerca da
utilização e influência dos livros didáticos no cotidiano escolar e, como
esses, vem sido readaptados para incluir e visibilizar questões ligadas aos
conteúdos de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, implementadas no
currículo a partir da Lei Federal nº10.639 no ano de 2003. A pesquisa objetiva
analisar as possíveis contribuições do Ensino de História para uma educação
antirracista e de valorização da população e identidade negra, quinze anos após
a obrigatoriedade proposta pela legislação, tendo como ponto de partida os
materiais didáticos referentes à disciplina de História, e discussões teóricas
acerca do livro didático como fonte de pesquisa. Tais reflexões primárias
pretendem estabelecer alguns questionamentos prévios afim de tornar-se
encaminhamentos para futuras pesquisas e estudos empíricos, a serem iniciados
pela acadêmica em voga, durante o Mestrado em História Social da Universidade
Estadual de Londrina, no presente ano.
Ratificada em 9 de janeiro de 2003, pelo
então Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei 10.639
estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana e
Afro-Brasileira no currículo escolar da Rede Básica de Ensino em todas as
instituições educacionais do país. Além de alterar a LDB (Lei Diretrizes e
Bases), acrescentando o Art. 26-A e 79-B, a presente legislação institui as
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, homologada no
dia 18 de maio de 2004, por meio do parecer 003/2004, de 10 de março do mesmo
ano, do pleno Conselho Nacional de Ensino (CNE), que aprovou o projeto de
resolução das diretrizes. A partir do ano de 2008, esta, se encontra modificada
pela Lei n° 11.645, que acrescenta também, a obrigatoriedade do estudo da
História e Cultura Indígena no currículo escolar.
Compreendemos a Lei 10.639/03 como um
dispositivo legal que além de inaugurar a implementação de políticas públicas
afirmativas no campo educacional brasileiro, contribuindo para o processo de
redemocratização do país, incluiu conteúdos que até então eram negligenciados
pelo currículo escolar, contestando a visão e o saber eurocêntrico hegemônico,
e possibilitando o reconhecimento da identidade negra na escola. “Mais que
incluir conteúdos, as leis número 10.639/03 e 11.645/08 demandam o
redimensionamento da memória histórica” (COELHO; COELHO, 2014, p. 364).
Sobretudo, a Lei n. 10.639/03, como
outras que dispõem sobre o tema, resultados diretos de um conjunto de demandas
dos movimentos sociais, em especial, do Movimento Negro, que solicitavam a
inclusão das discussões étnico-raciais nas disciplinas escolares. Deve ficar
evidente que tomamos a Lei como parâmetro, mas que temos noção de que esta não
foi simplesmente uma construção outorgada pelo Estado. Dessa forma, partimos do
marco legal e histórico representado pela Lei 10.639/03 para a premissa das
discussões e questionamentos que construíram o presente escrito.
Segundo Kabengele Munanga (1999), nós somos
produtos de uma educação eurocêntrica e, portanto, reprodutores conscientes ou inconscientes
de preconceitos enraizados em nossa sociedade. A partir do reconhecimento dessa
realidade, temos em vista que muitos dos
“[...] instrumentos de trabalho na escola e na sala de aula, isto é, os livros e outros materiais didáticos visuais e audiovisuais carregam os mesmos conteúdos viciados, depreciativos e preconceituoso em relação aos povos e culturas não oriundos do mundo ocidental” (p.15).
Logo, compreendemos ser papel da esfera
educacional em toda sua amplitude e organização, a criação de ações de
enfrentamento e combate ao racismo no cotidiano e na cultura escolar.
Reflexões
e questionamentos acerca do livro didático no espaço escolar
A partir desses apontamentos o presente
escrito surgiu dos seguintes questionamentos: como se encontra o tratamento das
temáticas de História e Cultura Africana e Afro-brasileira bem como das
questões Étnico-Raciais em materiais didáticos após os quinze anos da
implementação da Lei 10.639/03? Considerando o livro didático um material
essencial para a escola no Brasil, como esses vêm sido readaptados para tais
questões? As editoras também estão atentas a tais demandas? Como os
profissionais da educação veem tratando esses conteúdos no chão da escola, com
naturalidade e a importância devida, ou com estranheza e ainda no hall das “curiosidades”? O poder público
vem fiscalizando o cumprimento da medida legislativa nos livros didáticos e
espaços escolares?
O livro didático vem sendo objeto de
diversas pesquisas a respeito dos processos que resultam em sua concretude,
desde as etapas de produção, comercialização privada e/ou estatal, até analises
de conteúdos e pesquisas empíricas que demonstram sua relevância em sala de
aula (Freitag et al., 1989; Munakata, 1997). Apesar de críticas pedagógicas
resultas de estudos referente à temática, que se dão na adoção de medidas
alternativas de ensino por parte de docentes, o livro didático ainda consiste
em um instrumento de referência básica no cotidiano escolar público.
Desde o século XIX, o livro didático
vem sendo utilizado por professores/as e alunos/as para o estudo das mais
diversas disciplinas em suas diferentes formas didático-pedagógicas e
metodologias aplicadas, sendo basilar na mediação dos conteúdos referentes às
disciplinas curriculares e no processo escolar de ensino e aprendizagem. Circe Bittencourt (2004) aponta quatro
atributos que caracterizam o livro didático e que, dessa forma, compõem a
complexidade desse objeto. São eles: seu cunho mercadológico, sua forma de
depositar os conteúdos escolares, seu caráter de instrumento pedagógico, e por
fim, sua faceta de veículo ideológico e cultural.
Dessa forma, o livro didático se
constitui em um produto cultural que é condicionado à sua produção, fabricação,
comercialização e utilização em sala de aula, sofrendo influências não somente
de seus autores, editores, instituições e docentes que irão usá-los, e suas
respectivas correntes teóricas e metodológicas, mas também, de um conjunto de
saberes e pedagogias oficiais, que em suma, tem suas bases fixadas em um
conhecimento hegemônico e estatal, e portanto, eurocêntrico, burguês,
patriarcal e racialmente centrado.
“Os livros didáticos não são apenas instrumentos pedagógicos: são também produtos de grupos sociais que procuram, por intermédio deles, perpetuar suas identidades, seus valores, suas tradições, suas culturas” (CHOPPIN apud BITTENCOURT, 2004, p. 69).
Dito isto, podemos destacar a
importância de questionar essa hegemonização do saber que, Boaventura de Sousa
Santos (2010) irá denominar pensamento
abissal, fruto da ciência moderna ocidental e que despreza as formas de
conhecimentos e epistemologias produzidas fora da linha Norte do globo, bem
como de seus sujeitos produtores, tais como os saberes indígenas, africanos e
afro-brasileiros.
Destarte, a institucionalização de
políticas públicas educacionais como a Lei 10.639/03 e 11.645/08, que inserem
conteúdos até então negligenciados pelo Estado no currículo escolar, como a
História e Cultura negra e indígena, vem se tornando instrumentos fundamentais
para o combate às desigualdades raciais presentes na sociedade brasileira, e
que são sistematicamente reproduzidas na Educação. De acordo com Nilma Lino
Gomes, a escola não é um campo neutro, e sim sociocultural, onde conflitos
sociais e opressões estruturais como o racismo, a discriminação racial e de
gênero, intrínsecas na cultura e sociedade brasileira, acabam sendo
reproduzidas, em especial, “[...] nas relações entre educadores/as e
educandos/as” (1996, p.69).
E ainda, segundo Dominique Julia
(2001), a cultura escolar não é
estudada “[...]sem a análise precisa das relações conflituosas ou pacíficas que
ela mantém, a cada período de sua história, com o conjunto das culturas que lhe
são contemporâneas: cultura religiosa, cultura política ou cultura popular” (p.
10).
A partir desse contexto, ressaltamos a
importância da investigação de livros didáticos anteriores e posteriores a Lei
10.639/03 para analisar o processo das mudanças e alterações exigidas pela
legislação em vigência, e se as mesmas estão sendo cumpridas de forma efetiva diante
do processo de produção do livro didático até sua chegada em sala de aula e
mediação por meio do/a docente responsável pela disciplina de História.
Levantamos a hipótese de que a simples
implementação da lei não é suficiente para alterar muitos dos aspectos racistas
presentes na Educação, herdados de um projeto colonial de conhecimento escolar,
sendo necessárias também, a instituição de políticas públicas que proporcionem
o cumprimento e fiscalização da mesma. Segundo Petronilha Beatriz Gonçalves e
Silva (2013) a Educação das Relações Étnico-Raciais se faz essencial na
formação de sociedades democráticas que visam a garantia de direitos, poder e
autoridade, a todos os grupos sociais de formar igualitária.
Afim de compreender a aplicação e
possível reverberação positiva dos conteúdos de História e Cultura Africana e
Afro-Brasileira e das Relações Étnicos-Raciais na disciplina de História da
Rede Básica de Ensino, serão necessárias ainda mais pesquisas e estudos, se
possíveis financiados por agências oficiais de fomento e proporcionados pelo
contato direto com o meio escolar, que evidenciem os sujeitos protagonistas da
realidade pedagógica das instituições brasileiras, e dessa forma, o seu
conhecimento efetivo como objeto histórico, produtor e reprodutor de saberes,
ideologias e epistemologias, que podem tanto contribuir e legitimar, como
combater e desconstruir, as desigualdades e opressões sistêmicas presentes no
corpo social.
O
livro didático como fonte de pesquisa
O livro didático é um elemento clássico
da cultura escolar, sendo utilizado por educadores/as e educandos/as em
território brasileiro, desde o século XX. De acordo com Chaves e Garcia (2011),
foi nos últimos cem anos que os livros ganharam força no cenário educacional
nacional, tornando-se grande influenciador da Educação do nosso país no que diz
respeito aos conteúdos de ensino e aos métodos de ensinar, “[...] privilegiando
concepções e abordagens, indicando estratégias e recursos e, portanto,
contribuindo para definir elementos constitutivos do ensino nas diferentes
disciplinas escolares” (p. 9759). Dessa forma, materiais didáticos em sala de
aula, instituem-se na qualidade de fonte e objeto de diversas pesquisas, com suas
mais variadas finalidades.
A historiografia contemporânea
possibilitou que as fontes passassem a ser vistas como evidências, submetidas à
problematizações, questionamentos e interpretações por parte de
historiadores/as, professores/as e alunos/as, ou seja, por todos sujeitos
históricos, e não mais como uma verdade absoluta do passado, ampliando assim,
as possibilidades da utilização de fontes e documentos históricos por esses
sujeitos.
O Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD) representa o principal programa brasileiro de avaliação e distribuição
de coleções de livros didáticos à alunos e alunas da rede pública do Ensino
Básico. Criado em 1985, o PNLD tem como objetivo a obtenção e fornecimento universal
e gratuito de materiais didáticos nas escolas, assim como o planejamento da
compra e avaliação dos mesmos, sendo propiciado pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), que vinculado ao Ministério da Educação (MEC),
é responsável pela captação de recursos para o financiamento do programa.
Os livros didáticos distribuídos são
escolhidos pelas escolas, desde que cadastradas no PNLD, sendo submetidos
também, a avaliações pedagógicas coordenadas por comissões técnicas específicas
que são formadas pelo MEC, e compostas por especialistas das diferentes áreas
do conhecimento. As obras são inscritas a partir de critérios estabelecidos em
editais premeditados, tendo que atender todas as especificidades proposta por
este. Deste modo, a política pública de produção e distribuição do livro didático
é produzida para atender um edital especifico, e centralizada no governo
federal, tendo o Estado como agente de controle, produtor e consumidor. Logo,
“[...] a intervenção do Estado é direta e sem disfarces” (MUNAKATA, 1997,
p.58).
Em muitas instituições educacionais do
Brasil, os materiais didáticos são as principais e, em algumas situações, as
únicas fontes de informação utilizadas por alunos/as e professores/as em sala
de aula. Desta forma, os estudos que utilizam o livro didático como objeto e
fonte de pesquisa, se justificam e podem contribuir para análises mais abrangentes
e plurais dos livros disponibilizados para a escolha das escolas, colaborando
para a inclusão da diversidade social, étnico-racial, sexual, de gênero, entre
outras, no universo escolar. Conforme Circe Bittencourt (1993):
“A natureza complexa do objeto explica o interesse que o livro didático tem despertado nos diversos domínios de pesquisa. É uma mercadoria, um produto do mundo da edição que obedece à evolução das técnicas de fabricação e comercialização pertencente aos interesses do mercado, mas é também um depositário dos diversos conteúdos educacionais, suporte privilegiado para se recuperar os conhecimentos e técnicas consideradas fundamentais por uma sociedade em uma determinada época” (p.3).
Portanto, tal discussão se torna
relevante para se analisar o processo de escolha de materiais didáticos e todas
as etapas que envolvem sua utilização e propósito pedagógico nas instituições
educacionais brasileiras e, se tais materiais bem como as instituições, estão
cumprindo a obrigatoriedade proposta pelas leis 10.639/03 e 11.645/08.
É preciso um trabalho conjunto das
forças escolares, em especial, do setor público brasileiro, para tais demandas
se naturalizarem e fixarem como legítimas em todo o currículo educacional, como
também, nas práticas pedagógicas dos sujeitos que compõem o ambiente escolar,
em outras palavras, “O manual escolar não é nada sem o uso que dele for
realmente feito, tanto pelo aluno como pelo professor” (JULIA, 2001, p.34).
Referências
Eloá
Lamin da Gama é mestranda em História e Ensino no Programa de História Social
da Universidade Estadual de Londrina, graduada em História pela Universidade
Estadual de Maringá, e integra o Núcleo de Estudos Interdisciplinares
Afro-Brasileiros (NEIAB/UEM).
BITTENCOURT,
Circe Maria Fernandes. Livro didático e
conhecimento histórico: uma história do saber escolar. 1993. Tese
(Doutorado) Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo. São Paulo, 1993.
_______________________.
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Paulo: Contexto, 2004. p. 69-90.
BRASIL.
Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003.
Altera a lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes
e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de
Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro- -Brasileira”, e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan.
2003.
BRASIL.
Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008.
Altera a lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela lei n.
10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 11 mar. 2008.
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dos jovens. In: X Congresso Nacional de Educação (EDUCERE) – 1º Seminário
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Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba/PR, 2011.
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Mauro Cezar; COELHO, Wilma de Nazaré Baía. História, historiografia e saber
histórico escolar: a educação para as relações étnico-raciais e o saber
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SILVA,
Petronilha Beatriz Gonçalves e. Lei Nº
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Uma das dificuldades para a aplicação das Diretrizes é o próprio passado histórico marcado pelo preconceito racial ao qual ainda presenciamos no nosso cotidiano. O que você acha que o professor junto com a comunidade escolar poderia fazer quando o livro didático não dispõe dessa temática com o aprofundamento adequado da cultura africana e afro-brasileira?
ResponderExcluirIsabelle Santos Carvalho Lopes
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ExcluirCreio que o livro didático sempre poderá ser utilizado e problematizado, mesmo não apresentando as temáticas da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena, ou apresentando-as apenas em determinados períodos históricos, ou ainda, apresentando-as de formas estereotipadas e inferiorizadas. Como docentes podemos problematizar as razões e motivos, historicamente estabelecidos, para tal fato ainda ocorrer, podemos também, identificar quem são e de quais locos sociais partem os autores, editores e produtores dos livros, e dessa forma, problematizar as relações de poder e as narrativas em disputa presentes nos discursos desses indivíduos e na linguagem apresentada no material. Além disso, creio que incrementar o conhecimento de forma variada e interdisciplinar é sempre necessário e relevante, como utilizar-se de livros literários, produções cinematográficas, composições musicais, apresentações de teatro e dança, pesquisas em sites e blogs, etc.
ExcluirEloá Lamin da Gama.
Grata!
ExcluirQuais ações o professor poderia realizar para lidar com essas lacunas do livro didático?
ResponderExcluirJoana Bleza Cunha Alves
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ExcluirCreio que respondi de forma ampla a pergunta anterior, mas reitero aqui a importância de ações interdisciplinares de ensino/aprendizagem para incrementar o conhecimento e tentar suprir as lacunas no livro didático. Além de materiais artístico-pedagógicos, como a literatura, cinema, música, teatro e dança, creio que palestras, rodas de conversas e falas de grupos de movimentos sociais negros e indígenas de sua cidade, são sempre experiências ricas e de contato direto com os protagonistas dessa história, muitas vezes, apagada. Grupos de movimentos sociais que estão inseridos na Universidade podem ser interessantes também, para promover o contato da universidade com a escola pública, que em sua maioria, se encontram em realidades tão distantes, ainda mais em cidades pequenas e não universitárias. Enfim, tentar elucidar tais culturas de formas mais palpáveis e materiais, valorizando-a por meio do contato direto com seus sujeitos protagonistas.
ExcluirEloá Lamin da Gama.
Olá Eloá, parabéns pelo trabalho, gostei muito da leitura.
ResponderExcluirGostaria de saber como você compreende os desafios ainda impostos aos docentes para trabalhar com a história da África e da culta afro-brasileira nas escolas?
ATT
Edson Willian da Costa
Obrigada! Creio que tais desafios começam desde a formação docente, nos nossos cursos de ensino superior, infelizmente, ainda continuamos aprendendo teorias eurocêntricas e, muitas vezes, ultrapassadas, sem a devida problematização, como por exemplo, a glorificação da teoria da democracia racial de Gilberto Freire, e o mito da miscigenação idílica e pacífica. Creio que nós, enquanto docentes devemos contestar tais visões deturpadas da realidade negra brasileira, e também, não reproduzi-lá em sala de aula para nossos alunos e alunas, sempre problematizando e desconstruindo conhecimentos que contribuem para a manutenção do racismo epistemológico e cultural. Utilizar-se de materiais alternativos, e ter o apoio da equipe pedagógica para tal, é essencial, e também, não concentrar os trabalhos acerca da história e cultura afro-brasileira e africana apenas no mês de Novembro devido a data simbólica do dia da Consciência Negra, e sim trabalhar com tais temáticas cotidianamente em sala de aula, para não se tornar algo isolado e "exótico", e sim um conhecimento naturalizado e legitimado durante todo o período letivo.
ExcluirEloá Lamin da Gama.
Olá Eloá, boa tarde.
ResponderExcluirEu enquanto negro, pesquisador social, professor e historiador ficou esperançoso quando leio e tenho a oportunidade e discutir a respeito textos tão significantes, quanto esse, para essa temática que é tão importante. Alias, parabéns pela qualidade do seu texto. Ao ler o esse trabalho me coloquei a refletir o quanto a nossa cultura dominante é excludente e busca a todos custo relegar a um patamar de inferioridade as outras matrizes culturais que ajudaram a forja esse caldeirão étnico-cultural que é o nosso País. Sei que isso ocorre pelo fato de que a cultura do dominador ter por princípios norteadores o fomento da exclusão, preconceitos e desigualdades visando, assim facilitar a manutenção das estruturais sociais, econômicas, políticas e culturais segregacionistas aqui implantadas e consolidadas ao longo do tempo. Portanto, umas das formas mais eficazes de se combater preconceitos e esteriótipos historicamente consolidados, em nossa sociedade, é através da inserção dentro do espaço escolar de discussões e problemáticas que combatam essas estruturais por meio do esclarecimento dos nossos alunos (a) através de formação crítica e centrada nas matrizes culturais africana e indígena. Me lembro que em várias situações em que estava ministrando aula nos diversos níveis de ensino em que tenho atuado (Fundamental II, Médio, Graduação e Pós-Graduação) que quado me coloco discutir as contribuições dos povos e civilizações africanas, para a história da humanidade, a incredulidade de muitos dos meus alunos (a). É impressionante a cara de espato deles, sobretudo quando, de acordo com o nível de ensino que estou trabalhando, me coloco a discutir os grandes impérios negros; quanto afirmo e demonstro que grandes reis e imperadores da antiguidade (do oriente médio, da Ásia menor e da antiguidade clássica grego-romano) e da idade média ocidental era negros. Nessa situações, após um breve momento de recomposição, me coloco a pensar sobre a perfeição e eficacia do racismo brasileiro. Por fim, fico apavorado por que sei o quanto é danoso para para esse País e, sobretudo para os negros, índios e pardos. Assim, se faz urgente agirmos para desconstruir as mentiras perpassadas pelos invasores e escravista a respeito dos povos e culturas de matriz africana e indígena. Assim a Lei 10.639 é muito importante para combatermos e desconstruirmos o racismo e o eurocentrismo que predomina em nossa sociedade. Assim,, Eloá, gostaria de saber se ao longo de sua prática e vivencia, enquanto professora e formadora de opinião, teve a oportunidade de militar em prol da igualdade étnica nos ambientes em que transita.
Abraços,
Eduardo Augusto de Santana.
Você acha que seu trabalho poderia ser utilizado para outros campos de pesquisas da mesma temática?
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