Matheus França dos Santos e Ricardo Nogueira Albino Neto




Introdução
A formação cultural brasileira é bastante diversificada, a começar pela sua formação étnica, que tem em sua base a mistura dos povos indígenas, negros africanos e o branco europeu o que nos remete a uma etnia bastante miscigenada e heterogênica e de difícil caracterização. Nesse sentido, a religiãoé um dos aspectos de bastante importância dentro da questão da formação cultural brasileira.

O Brasil atualmente é constitucionalmente um país laico. Desde o advento do governo republicano, na virada do século XIX para o XX, o catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado e com isso a liberdade religiosa começa se introduzir de forma modesta e a fazer parte da sociedade brasileira, mas apesar do Brasil não possuir uma religião oficial, grande parte dos brasileiros ainda são católicos, o que nos mostra a hegemonia do cristianismo dentro de nossa sociedade.

Por conta de nossa formação heterogênica, várias outras religiões, além do catolicismo, foram se constituindo em nosso meio, dentre as quais podemos destacar as de matrizes africanas, como: Candomblé, o tambor de mina, o batuque, o xangô e a umbanda. Essas religiões foram sendo organizadas, a partir dos povos africanos que vieram para o Brasil como escravos.No princípio eram proibidas de serem praticadas, pois o catolicismo era a religião do Estado, o que levou as tais religiões a se organizarem de forma sincrética, absorvendo práticas do catolicismo romano no caso do candomblé e da umbanda.

Nesse presente trabalho analisaremos as religiões de matrizes africanas e o processo educacional, abordando sua relação com ensino-aprendizagem da história cultural brasileira. Para isso, analisamos a lei 10639/03 que obriga o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas, além da lei, utilizamos para tal abordagem leituras bibliográficas, dentre elas temos os textos de Reginaldo Prandi, Elivaldo Custódio, entre outros.

Por tanto, nesse trabalho destacamos dois objetivos, que nos nortearam dentro do processo de fabricação desse artigo, os quais são: Analisar o processo de formação das religiões de matrizes africanas como parte da cultura brasileira. Nesse momento realizamos uma pequena abordagem histórica da organização dessas religiões. O segundo objetivo é problematizar o processo de ensino-aprendizagem dessas religiões como parte da história da formação cultural brasileira.

Cultura afro-brasileira:  religiões de matriz africana
O Brasil tem uma formação étnica e cultural bastante peculiar, tendo em sua base três etnias que foram de fundamental importância para sua constituição: o índio, o negro africano, que foi trazido como escravo e o branco europeu, um dos principais agentes do processo da colonização brasileira. Essa grande mistura de “raças e cores” é formação basilar de nossa sociedade.

Essa heterogeneidade de povos, trouxe consigo uma grande diversidade cultural e com isso também diversas religiões, é por isso que hoje o povo brasileiro tem em meio de sua sociedade varias delas. Segundo Sonia Aparecida Siqueira:
“A sociedade brasileira resulta da mistura e do encontro de diferenças fenotípicas e culturais de seus componentes.No encontro das diferenças revelam-se,concomitante ou separadamente,anteposições e contraposições. Nas diferenças culturais anicham-se as diferenças religiosas. [...] O Brasil não é exclusivamente cristão e católico. A formação do país desde as suas origens resultou na mescla e na sedimentação de variados aportes humanos.” (SIQUEIRA, 2009, p. 37)

Essa mescal de etnias, deu aporte a formação de varias religiões no decorrer da história brasileira e de sua construção cultural, as de matrizes africanas enquadram-se nessa variedade religiosa, junto com as religiões cristãs e etc.Hoje o Brasil é um país laico, onde todos tem liberdade de culto a qualquer deus e crença, mas nem sempre fora assim, até antes da República se tornar o sistema de governo brasileiro, o catolicismo romano era a religião oficial do Estado.

Com isso, antes do fim do século XIX e início do XX, qualquer das crenças que não fossem a dos católicos, eram perseguidas pelo Estado. Até mesmo depois da laicidade de nosso país algumas religiões principalmente as afro-brasileiras, como no caso da umbanda, sofriam perseguições do Estado através da polícia, mesmo após o país deixar de possuir uma religião oficial, pois a umbanda tem sua formação no início do século XX, anos após a promulgação da laicidade do Estado brasileiro.

As religiões afro-brasileiras, desde suas organizações inicias, sofrem com as mais variadas retaliações por parte da sociedade e do Estado, o que culminou na marginalização dessas práticas religiosas, ocasionando o desenvolvimento de uma gama de preconceitos relacionados a seus cultos e ritos, que por grande parte da sociedade é mal compreendido e por sua vez são interpretados por rituais satânicos e de magia negra.Segundo Constantino Melo,“diversos atores sociais, dentre eles, as igrejas cristãs, a família, a escola, a mídia, objetivam estas religiões como práticas religiosas ignorantes e demoníacas.” (MELO, 2016, p. 281).

Ocorre assim uma contribuição por parte de varias instituições sociais, para que esse processo de demonização das religiões afro-brasileiras se legitime dentro da sociedade, acarretando á depreciação, o preconceito e a não valorização dessas práticas religiosas que estão vinculadas de forma intrínseca com nossa formação cultural.

Apesar dessas crenças de matrizes africanas ainda sofrerem com retaliações por parte da sociedade, muito já se foi conquistado no decorrer dos anos de sua formação, direitos como a liberdade religiosa garantiram a essas religiões uma maior dialogo com a sociedade e até mesmo com outras religiões:
“No Brasil, atualmente, tem se desenvolvido com mais intensidade a cultura do diálogo entre as mais diversas religiões. A ocorrência desse fato se deve possivelmente à promulgação da Constituição Nacional de 1988, a qual assegura por meio do art.5º, cap. I, inciso VI o direito de se ter liberdade de credo e de culto. Esse direito representou uma árdua conquista, que se deu com muita luta, pois havia o domínio da eurocêntrica católica no período colonial brasileiro, que legitimava a inferiorização e até proibia a prática de outras religiões que se encontravam no país - por meio dos povos indígenas e negros.” (NIZER; PAULA; RIBAS; THOMÉ, 2015, p. s/p)
        
A liberdade de culto conquistada constitucionalmente, garantiu de certa forma, uma quebra com o domínio social que o catolicismo empregava em meio à nossa sociedade, equiparando de certa forma as religiões afro brasileiras as demais. Mas é certo que a muito caminho a se percorrer dentro do quesito de legitimação de suas práticas dentro de nossa comunidade.

Independente de todas as perseguições direcionadas as crenças afro-brasileiras ao logo de suas caminhadas, elas se desenvolveram, de certa forma, atravessando assim as fronteiras e barreiras dos preconceitos, chegando a se espalhar até mesmo para fora de nosso país, como no caso da umbanda, que não só é conhecida e praticada dentro Brasil, país de sua origem, mas também fora dele, em alguns países do Cone Sul.

A umbanda é a religião genuinamente brasileira, diferente do candomblé. Ela é uma mistura sincrética de algumas religiões como o espiritismo kardecista.A umbanda nasce em um processo de branqueamento em relação as características africanas:

“Formada no Rio de Janeiro nos anos 20 e 30 do século XX, logo se espalhou pelo Brasil todo como religião universal sem limites de raça ou etnia, geografia e classe social. Até essa época, o candomblé e as demais denominações tradicionais continuavam circunscritas àquelas áreas urbanas em que se formaram em razão da concentração de populações negras, isto é, aglutinação de descendentes dos antigos escravos africanos. Continuavam a ser religiões de negros. A umbanda não: ela já nasceu num processo de branqueamento e ruptura com símbolos e características africanas, propondo-se como uma religião para todos, capaz mesmo de se mostrar como símbolo de identidade de um País mestiço que então se forjava no Brasil das primeiríssimas décadas do século XX.” (PRANDI, 2003, p. 20)

Apesar de ser uma religião jovem, isto é, comparada a outras de matriz africana, a umbanda, já nasce com um projeto de religião universal, aberta a todos, sem distinção de classe social e principalmente cor. Ela não é restrita e nem teve sua formação pelos povos africanos que chegaram ao Brasil atreves da escravidão, como no caso do candomblé, pelo contrário ela rompe totalmente com essas características, apesar de ter em sua formação base uma religião de essência africana.

Mas porque, apesar de ser uma religião brasileira ela não é adotada pela maioria da população? uma das explicações possíveis poderia ser a sua formação bastante jovem.A umbanda não tem nem um século de existência, pois o primeiro centro de práticas umbandistas surgiu entre as décadas de 20 e 30 do século passado na região do Rio de Janeiro, então apesar de ser reconhecida e praticada até mesmo fora da Brasil, talvez por conta de sua jovialidade ela não tenha tanto espaço como as tradicionais.

Também podemos ressaltar a falta de conhecimento sobre a religião, o que acarreta o processo de preconceitos e injurias que são disparadas em relação a ela e aos seus praticantes. Podemos também destacar as perseguições sofridas pelas outras religiões como as neopentecostais que atacam as crenças de matriz africana ferrenhamente, disparando em seus cultos diversas injurias em relação a essas religiões.

Elas utilizam os seus cultos para depreciar outras religiões, especificamente as de matriz africana, principalmente o candomblé e a umbanda. Dentre as igrejas que praticam tais atos, podemos destacar a igreja Universal do Reino de Deus, que se utiliza do púlpito, para lançar injurias e se promover através de um discurso de demonização dessas religiões, o que leva a seus fies a desenvolver um olhar torto em relação as crenças afro-brasileiras. Segundo Prandi:

“Até recentemente essas religiões eram proibidas e por isso duramente perseguidas por órgãos oficiais. Continuam a sofrer agressões, hoje menos da polícia e mais de seus rivais pentecostais, e seguem sob forte preconceito, o mesmo preconceito que se volta contra os negros independentemente de religião. Por tudo isso, é muito comum, mesmo atualmente, quando a liberdade de escolha religiosa já faz parte da vida brasileira, muitos seguidores das religiões afro-brasileiras ainda se declararem católicos, embora sempre haja uma boa parte que declara seguir a religião afro-brasileira que de fato professa.” (PRANDI, 2003, p. 16)

Talvez essa carga de injurias e preconceitos que são lançadas por diversas áreas da sociedade, seja por outras religiões principalmente as de cunho cristão, ou até mesmo pelas famílias e vizinho que por muitas vezes discriminam os seus familiares e amigos praticantes de tais religiões, levem aos umbandistas, candomblecistas e praticantes de outras religiões afro-brasileiras a se esconderem dentro do catolicismo ou até mesmo em outras religiões.

A camuflagem desses participantes dentro de outras religiões, os livra de um serie de discursos preconceituosos que depreciam e ferem os direitos religiosos dos praticantes das religiões de matriz africana. Segundo Prandi (2003) essa camuflagem, apesar da promulgação da liberdade de crença e religião garantida pelo artigo 5º inciso VI e VII da Constituição Federal Brasileira, é bastante comum, o que talvez ocorra por conta do sincretismo que envolve tais religiões.

Apesar de todos os discursos preconceituosos que são disparados em relação, aos afro-brasileiro e suas práticas religiosas, não podemos negar que essas crenças fazem parte de nossa cultura:

“Sabe-se que os afro-brasileiros conseguiram, mesmo com os danos
das ideias racistas, protagonizar a construção de uma cultura brasileira nas mais variadas áreas. Esse é o maior legado dos negros para a nossa sociedade, pois quase tudo que gostamos de comer, de fazerem nossa prática de lazer, na forma como nos relacionamos, como vemos as coisas e produzimos conhecimento, tudo isso possui uma forte elaboração negra.” (SANTOS, 2011, p. 8)


Portanto é inegável a participação dos afro-brasileiros e suas práticas culturais e religiosas na formação de nossa cultura. Suas heranças estão evolvidas em nosso cotidiano, seja em nossa alimentação, moda, música e principalmente nas religiões.

O processo educacional e as religiões afro-brasileiras
A educação é um dos braços do Estado que trabalha como formador de indivíduos e cidadãos, os moldando de acordo com os padrões socioculturais ao qual estão inseridos. Portanto, levando em consideração a diversidade cultural brasileira, a escola tem por obrigação trabalhar esses aspectos, levando ao conhecimento do aluno os aspectos culturais que formam sua sociedade.

Dentro desses padrões culturais basilares de nossa sociedade, destacamos a contribuição dos afro-brasileiros, que tiveram papel fundamental dentro de nossa formação étnica, religiosa, econômica e social, ou seja, eles tiveram papel fundamental na nossa formação cultural, deixando marcas profundas em meio ao povo brasileiro, essas “cicatrizes benéficas” estão entranhadas em nosso cotidiano.

Por tanto, a educação tem por obrigação de explorar e levar ao conhecimento dos alunos e do povo brasileiro o quanto a participação deles levaram a constituição da identidade do povo brasileiro, que está envolvida dentro de um processo de heterogeneidade enorme, diversidade ímpar que está entranhada no sangue e composição do povo e da cultura de nosso país.

“[...] a escola, como instituição social, responsável pela formação dos sujeitos,tem como um dos papéis fundamentais a transmissão da cultura e do conhecimento,sendo imprescindível em sua abordagem questões acerca da diversidade cultural religiosa. Dessa maneira, teremos um modelo de escola plural e democrática que aborde em seu processo pedagógico elementos relacionados à diversidade cultural,bem como as questões da religiosidade e sua ligação com o Sagrado, por meio do convívio intercultural.” (NIZER; PAULA; RIBAS; THOMÉ, 2015, p. s/p)

A escola é de fundamental importância para a formação de uma consciência cultural, e dentro desse aspecto a religião não pode ficar de fora, pois ela constitui um dos principais fundamentos da cultura. A religião ou falta dela é uma das principais características de uma sociedade, ele está entranhado a várias áreas sociais, apesar de ela ter uma relação intrínseca com o metafisico, as crenças, os ritos e as práticas religiosas estão envolvidos fortemente com várias áreas, desde as relações comportamentais de determinada comunidade, povo ou sociedade até as suas relações econômicas.

Assim sendo, a religião é um dos aspectos pelo quais podemos compreender como se formou ou se deu a formação cultural de um determinado povo, é através dela que compreendemos como determinada sociedade ou grupo social enxerga o mundo.

Dentro dessa perspectiva, trabalhar no âmbito escolar a cultura afro-brasileira é trabalha a história do Brasil. dentro desse aspecto demos destaque as religiões de matrizes africanas, elas são de fundamental importância para a formação cultural de nosso Estado. Através delas podemos trabalhar como se deu o processo de escravização dos povos africanos trazidos para cá e seu processo de resistência a imposição religiosa por parte do colonizador.

Ainda através desse aspecto compreendemos a diversidade religiosa que permeia a nossa cultura. Trabalhar as religiões de matriz africana dentro do âmbito escolar é agir de forma democrática, diversificada e laica e ainda é dar espaço para a cultura afro-brasileira, que por muito tempo foi e ainda é marginalizada e deixada de lado pela historiografia, que sofreu e ainda hoje sofre com um processo de branqueamento de nossa história.

“O Estado brasileiro não pode desconsiderar o papel histórico e a contribuição que as religiões de matriz africana tiveram na formação da identidade e costumes do povo brasileiro, proporcionados pela chegada de milhares de africanos escravizados trazidos ao país. Essa população que, no confronto com o padrão dominante aqui existente, introduz e reproduz os valores e saberes da visão de mundo africana, reelaborando e sintetizando no Brasil a relação do homem com o sagrado [...]” (CONAPIR, 2005, p. 105 apud CUSTÓDIO, 2012, p.32)

O Estado brasileiro, não pode negar que os afro-brasileiros estão intrinsecamente entranhados á nossa formação cultural. Ao trabalhar a sua história, sua relação cultural e principalmente a perspectiva religiosa dentro do âmbito escolar é reconhecer essa grande contribuição desses povos para a formação de nosso país, o que por muito tempo foi “renegado” ou não foi trabalhado.

Anteriormente dentro das escolas e do ensino brasileiro, seja em qual esfera fosse, a contribuição do negro para a formação de nossa história estava sempre ligada ao processo de escravidão sofridas por eles, sempre trazendo imagens fortíssimas de representações dos povos africanos sendo torturados e massacrados pelo português colonizador.

“Durante anos a história da África era vista de forma irrelevante no âmbito do ensino fundamental e médio nas escolas de rede pública, isso se dava pelo fato de o continente ser visto sempre de forma secundária, relacionado meramente ao escravismo” (MENDES; ARAÚJO, 2016, p. s/p)

Tal processo educacional, contribuía no processo de legitimação de inferiorização dos afro-brasileiros, ajudando até mesmo para desenvolver certos preconceitos, pois a repetição constante trazidas pelos livros didáticos e pelos professores do processo de escravização dos povos africanos, somente vai legitimando a contribuição dos povos africanos por sua participação na sociedade brasileira como escravos, esquecendo que a participação dos afro-brasileiros foi muito além, a sua cultura pode ser vista com bastante força em nosso meio social, através da música, moda e também religião.

Hoje graças aos vários anos de lutas em busca de direitos e através de intervenções do Estado, esse quadro educacional vem sofrendo alterações, que modificaram o sistema de ensino e os conteúdos em relação a história da cultura afro-brasileira – modificações essas que alteram a metodologia de abordagem dos conteúdos – dando espaço para a rica contribuição cultural e histórica para a formação do nosso povo. Dentro dessa esfera podemos ressaltar a promulgação da lei 10639/03, que foi decreta dentro do governo Lula:

“Apesar dos esforços é notável que a história africana continua sendo vista através de lentes preconceituosas e estereotipadas. No anseio por desvincular a África desses estereótipos ainda tão comuns, em 2003 é promulgada a lei de n° 10.639/03 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras na Educação Básica.” (MENDES; ARAÚJO, 2016, p. 3)

Essa promulgação foi um marco para a educação brasileira, pois proporcionou uma mudança drástica no processo de ensino-aprendizagem da história cultural afro-brasileira, ocorrendo essa obrigatoriedade, os PPPs das escolas devem se adequar a esses padrões e além de diversificar o ensino, essa lei proporcionou um maior conhecimento e valorização da cultura afro-brasileira.

Mas mesmo após 16 anos da promulgação da lei, o ensino sobre a história da cultura afro-brasileira ainda enfrenta bastante dificuldades, principalmente quando se toca no quesito religião ou religiosidade relacionada as de matriz africana. O preconceito ainda permeia o âmbito escolar, tanto por parte dos alunos como por parte dos próprios professores.

Os docentes muitas vezes carregados por uma onda de preconceitos, seja por fazer parte de alguma religião contrária ou por até mesmo por não conhecerem, se omitem em relação a determinado tema, levando assim aos alunos a desinformação e desconhecimento de determinada área, ocasionando assim uma permanência de metodologias de ensinos deficientes em relação aos povos africanos e a formação de nossa estrutura cultural:

[...]o Brasil precisa avançar em muito na discussão sobre a liberdade religiosa e o tratamento igualitário entre todas as matrizes religiosas existentes no Brasil. E neste cenário, a intolerância religiosa é considerada, atualmente, umas das questões mais difíceis de serem enfrentadas pelos educadores, pelas escolas e inclusive pelo espaço universitário, cuja ausência de tolerância viola a dignidade da pessoa humana, resguardada pela Declaração dos Direitos Humanos. (CUSTÓDIO, 2015, p. S/P)

Assim o processo de ensino e aprendizagem da cultura afro-brasileira e de suas contribuições, especificamente em relação as religiões de matriz africana, ainda se encontra – apesar de todas as lutas dos militantes e de grupos sociais afros – em processo de construção, pois a tolerância religiosa é algo muito sensível de ser trabalhado no meio da nossa sociedade repleta dos mais variados tipos de discriminação.

O preconceito religioso encontra-se ainda muito entranhado em meio aos brasileiros, principalmente em relação as religiões afro-brasileiras. Os adeptos de religiões ditas “tradicionais” como o catolicismo e principalmente as de cunho protestante neopentecostais, constantemente deturpam a imagem dessas religiões, seja por meios de comunicação áudio visual, ou através de seus cultos e até mesmo no meio escolar, por meio dos docentes que frequentam os cultos e fazem parte dessas religiões.

Referências
Matheus França dos Santos é formado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Campus Poeta Torquato Neto. Especialista em Metodologia do Ensino de História pela Faculdade de Educação São Luís – FESL. 
Ricardo Nogueira Albino Neto é formado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Campus Poeta Torquato Neto. Especialista em História do Brasil Afrodescendente e Indígena pela Faculdade Evangélica do Meio Norte – FAEME.

BRASIL. [Constituição (1988)].Constituição da República Federativa do Brasil [recurso eletrônico]. -- Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Documentação, 2017.518 p.Atualizada até a EC n. 97/2017. Acessada 09/12/17, disponível em http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoConstituicao/anexo/CF.pdf
CUSTÓDIO, Elivaldo Serrão. Religiões de matrizes africanas como patrimônio culturalimaterial no contexto escolar do Amapá. RevistAleph - dezembro 2012 - ANO VI - Número 18. Acessado no dia 01/12/2017, < disponível em >http://www.revistaleph.uff.br/index.php/REVISTALEPH/article/viewFile/33/28
________________. Ensino religioso e religiões de matrizes africanas no espaço escolar no amapá: um diálogo necessário. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0108.
MENDES, Samiri; ARAÚJO, Aline. A importância das religiões de matrizes africanas no âmbito escolar. II CINTEDI. Campina Grande – PB, novembro, 2016. Acessado no dia 01/12/2017, <disponível em >https://editorarealize.com.br/revistas/cintedi/trabalhos/TRABALHO_EV060_MD1_SA17_ID3214_13102016102554.pdf
NIZER, Carolina; PAULA, Angela; RIBAS, Cristina; THOMÉ, Adriana. Educação, religião e diversidade religiosa no espaço escolar. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0138.
PRANDI, Reginaldo. As religiões afro-brasileiras e seus seguidores. Civitas – Revista de Ciências Sociais v. 3, nº 1, jun. Porto Alegre,2003.
________________. Referências sócias das religiões afro-brasileiras: sincretismo, branqueamento, africanização. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 4, n. 8, p. 151-167, jun. 1998. Acessado no dia 01/12/2017, <disponível em>http://www.scielo.br/pdf/ha/v4n8/0104-7183-ha-4-8-0151.pdf
SANTOS, Ângela Maria dos. Identidade e Cultura Afro-Brasileira Cuiabá: EdUFMT, 2011
SIQUEIRA, Sonia Apparecida de. Multiculturalismo e religiões afro-brasileiras o exemplo do candomblé. Revista de Estudos da Religião. Março, 2009, p. 36 – 55. Acessado no dia 01/12/2017, <disponível em >http://www.pucsp.br/rever/rv1_2009/t_siqueira.pdf.
XAVIER, Marlon. O conceito de religiosidade em C.G. Jung. Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). PSICO, v. 37, n. 2, pp. 183 – 189, maio/ago. 2006

17 comentários:

  1. Parabéns pelo belo texto. Também trabalho com as religiões de matriz africanas em sala de aula e já tive problemas com isso, em relação a pais de alunos adeptos as religiões neopentecostais, já que moro em região extremamente conservadora e de colonização europeia. Diversas escolas de Samba do Grupo de Acesso do Rio de Janeiro desse ano, usaram o tema como forma de Resistência, com destaque para a Unidos da Ponte, com o enredo “Oferendas” e a Alegria da Zona Sul “Saravá, Umbanda”, vale a pena dar uma conferida. (Os desfiles e as letras estão disponíveis no YouTube). Na sua opinião, o que deveria ser feito para além da sala de aula, para que a Umbanda e o Candomblé tivessem mais aceitação e visibilidade, já que esse distanciamento das outras religiões é cultural?

    Aristides Leo Pardo

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    1. Ola Aristides, obrigado! O preconceito com as religiões de matriz africanas é algo alimentado constantemente no meio pentecostal e em outras esferas de nossa sociedade, sempre as relacionando ao satanismo ou algo do tipo, dentro desse aspecto de não aceitação social, isso se da em grande parte, pela falta de conhecimento sobre essas religiões, apesar de em todo o canto do país termos os terreiros de Umbanda e Candomblé, elas vivem em uma constante zona de marginalização social. Uma das soluções para combatermos o preconceito e quebrar como essa zona de marginalização em que elas se encontram, é o dialogo com a sociedade como um todo, e isso deve partir da esfera escolar e se desdobrar para outros espaços da sociedade, a história e a identidade dessas religiões devem ser discutidas, debatidas e ensinadas em meio a nossa sociedade. Um exemplo disse seria a promoção de eventos culturais que abrangessem esse assunto e dentro desses eventos ocorressem diálogos e rodas de conversas.

      Matheus França dos Santos

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  2. Excelente reflexão!

    Seria possível dizer que a miscigenação brasileira corrobora para que ainda se propague esse preconceito religioso e na forma que temática africana e afro-brasileira é tratada dentro da sala de aula?
    Digo isso porque a miscigenação é ainda vista como algo belo, um sincretismo entre culturas e como pilar da formação da identidade brasileira mas, que na verdade, fez/faz parte da política de branqueamento.

    Grata

    Isabelle Santos Carvalho Lopes

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    1. Olá Isabela! Obrigado! É inegável o papel de miscigenação formação do Povo brasileiro, todavia o preconceito não é fruto do processo de miscigenação e sim um aspecto sócio-histórico pré-colonização brasileira, advindos dos primeiros contatos dos Europeus como os povos africanos. Então acredito que o fator da miscigenação não afeta o preconceito religioso no espaço de sala de aula, podemos perceber que o preconceito está mais ligado ao fato da criação de estereótipos relacionados a ideia de rituais satânicos ou de algo ruim.

      Ricardo Nogueira Albino Neto

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  3. Muito bom o seu texto, esse preconceito com relação as religiões de matriz africana ainda e bem forte em nossa sociedade que ainda associa bastante as práticas religiosas a rituais satânicos e demoníacos. Haja vista que a sociedade ainda não aceita esse tipo de religião, qual seria a melhor maneira de conseguir inserir-la no âmbito escola?
    Desde já agradeço pela atenção!!

    Ruan David Santos Almeida

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    1. Olá Ruan Boa Noite! É nítido o preconceito em nosso meio social em relação as religiões de matriz africana. Ainda encontramos vários entraves no processo de inserção de tais temas em sala de aula, o que ocorre muitas vezes por conta do próprio professor, que não consegue desenvolver o tema muitas vezes pela suas carga de preconceitos. Mas ao meu ver uma das melhores maneiras de envolver esse tema em sala de aula é através do desenvolvimento de diálogos em sala, procurando sanar as dúvidas e levando aos alunos o conhecimento histórico e identitário das religiões de matrizes africanas, mostrando aos discentes como essas religiões estão intrinsecamente ligadas a formação social e cultural brasileira.

      Matheus França dos Santos

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  5. Olá,bom dia! Primeiramente, parabenizo as considerações feitas no trabalho. O tema é pertinente e atual. Gostaria de sugerir o texto: SANTOMÉ, Jurjo Torres. As culturas negadas e silenciadas no currículo. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. No texto citado, é apresentado e discutido o conceito de "currículos turísticos" que pode auxiliar na discussão proposta. Ademais, gostaria de saber a percepção de vocês sobre o andamento desta discussão no âmbito da educação piauiense. Vocês conseguem perceber avanços?

    Gabriela Alves Monteiro

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    1. Olá Gabriela! Obrigado! Sabemos que temos vários grupos de matrizes africanas no que diz respeito as discussões religiosas no espaço piauiense, no entanto, não podemos afirmar que essas discussões no âmbito educacional piauiense tiveram algum avanço, pelo fato de não abordamos essencialmente esse recorte espacial.

      Ricardo Nogueira Albino Neto

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  6. Olá, boa tarde! Gostaria de parabenizar pelo trabalho, mas do que nunca precisamos falar sobre as religiões de matriz africana já que a lei de obrigatoriedade não se faz presente nas escolas.
    Percebo que sempre que tem palestra ou mesa de conversa sobre religiões de matriz africana, tem-se uma resistência por parte dos alunos, pois os mesmos tem em sua bagagem sobre a história africana traços negativos.
    Curiosamente só causa resistência quando se fala de religião de pret@. Quando se fala de religião não cristã de branco ninguém reclama. Quando fala de religião grega no livro de história ninguém reclama.

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    2. Olá Aline, boa noite!A Sua colocação é bastante pertinente, é perceptível o "desprezo" por parte dos alunos quando em sala de aula falamos sobre as religiões de matriz africana, diferentemente não conseguimos observar tal comportamento em relação a outras religiões sejam elas de viés cristão ou não cristão, mas tal preconceito se da pelo processo de marginalização e estereotipação imposta sobre essas religiões, geralmente ligados a algo ruim ou ligado a rituais satânicos.

      Matheus França dos Santos

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  7. Parabéns pelo texto Matheus e Ricardo.
    Ele é muito claro e de fácil compreensão.
    Sobre as dificuldades no que se refere ao trabalho com as religiões e a cultura afrobrasileira ainda é uma luta diária. Moro em uma cidade colonizada por europeus, tenho poucos alunos de origem afro, o que dificulta tanto para o aluno, como para o professor uma abordagem com a participação e interação dos alunos, muitos tem uma imagem negativa da cultura afro, como eles mesmos dizem "macumba e saravá".
    Gostaria de saber se vocês podem indicar alguns livros para serem trabalhados em sala de aula?
    Outra pergunta é qual a origem do interesse do tema?
    Abraço

    Anderson da Silva Schmitt

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  8. Parabéns, pelo trabalho. O preconceito, infelizmente é uma arma potente nas mãos de pais de alunos desinformadas que difamam outras religiões, sem o mínimo de respeito e amor ao próximo. A promulgação da lei 10.639/03 ressalta a importância dos estudos da História e Cultura Afro-brasileira e Africana o ensino sobre a história da cultura afro-brasileira, mas, infelizmente, quando se fala em outras religiões nas escolas o professor ainda enfrenta dificuldades, principalmente quando se trata no quesito religião de matriz africana e afro-brasileira, é aquele alvoroço. Como você mencionou o preconceito ainda permeia o âmbito escolar, tanto por parte dos alunos como por parte dos próprios professores.
    Boa Noite.
    Att,
    Gláucia Maria Rodrigues do Nascimento.

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    1. Olá Gláucia, trabalhar com esse tema em sala de aula ainda é algo permeado de barreiras e preconceitos, que partem de fora da escola, seja por conta de pais de alunos que tem uma visão distorcida e preconceituosa em relação as religiões de matriz africa, justamente por não conhecerem ou por farem parte de religiões cristãs, geralmente neopentecostais, ou não cristãs, mas que distorcem a verdade em relação a essas religiões e também de dentro da, muitas vezes partindo do próprio professor que tem uma enorme carga de preconceito. Mas algumas vitorias já foram alcançadas, o caminho é longo e árduo, mas continuaremos a lutar sempre contra toda forma de preconceito e intolerância.

      Matheus França dos Santos

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  9. Parabéns pela iniciativa. Abordar essa temática é de suma importância, especialmente em tempos de luta contra intolerância. Compreender essas religiões não é apenas pensar no credo em sim, ou em como elas fazem parte da formação identitária e cultural do brasileiro, mas compreender principalmente as relações sociais que se dão nessas comunidades. Podemos perceber como os terreiros estão inscritos geograficamente e sua relação com o meio. Enfim, as discussões que suscitam o tema são diversas e por isso devemos trazer a temática para a sala de aula.

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